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ANEFAC reúne mercado para debater avanços e transformações no setor tributário brasileiro 

Efeitos da Reforma Tributária, novas tecnologias e mudança no perfil dos profissionais foram debatidos no evento 

Diante de um mercado em transformação permanente e dos desdobramentos que a Reforma Tributária deve imprimir no mercado brasileiro, companhias de diferentes setores econômicos, consultores, advogados, executivos e outros profissionais de Tax se encontraram no ANEFAC Connecta, no dia 27 de agosto, na capital paulista. Em pauta, tudo o que impacta os profissionais atualmente e, num futuro próximo, para que consigam acompanhar as inovações e mudanças em curso. 

A introdução da Inteligência Artificial no setor, por exemplo, mereceu um painel inteiro. De acordo com Fábio Rodrigues, sócio da empresa de tecnologia Busca.Legal, as vantagens que a IA pode trazer para a área tributária são enormes, liberando os profissionais das atividades de baixo valor agregado. “Poderemos usar a tecnologia e IA para trabalhos mais operacionais, e alocar a equipe em atividades mais estratégicas para o negócio”, disse. 

Na visão de Ana Ferrara, gerente de Fiscal e Planejamento Tributário da Tokio Marine, a área sairá ganhando em agilidade na manipulação de dados e na tomada de decisão. “Conseguimos decidir de forma mais assertiva e antecipar tendências nos negócios. A inteligência artificial faz alguns serviços muito melhor e mais rapidez, enquanto o time consegue pensar no planejamento tributário e questões mais estratégicas”, afirmou. 

Giovanni Schiavone, sócio da EY, ressaltou que já começa a ver profissionais de Tax com uma atuação muito mais voltada para o negócio. Com o suporte desses analistas, por exemplo, a área de Compras pode investigar melhor se a empresa está comprando produtos com o menor custo, e não escolhendo pelo menor preço.  

Segundo Douglas Batista, gerente executivo da Totvs, acredita que o papel dos profissionais da área tem mudado, deixando de ser hiperespecializado e dispensando algumas atividades que podem ser executadas por novas ferramentas e sistemas tecnológicos. “A nossa capacidade de conectar pontos e pensar estrategicamente é muito maior, estamos envolvidos hoje em áreas que não estávamos antes. Até a decisão da abertura de uma nova unidade da empresa, por exemplo, conta com a nossa participação. 

Ética e planejamento tributário 

No painel sobre a ética e o planejamento tributário, os participantes realçaram a importância da atuação responsável, pavimentada pelos princípios de governança e das boas práticas. O diretor de Inovação Tributária da ANEFAC, Roberto Puoço, pontuou que, assim como vem acontecendo em outros países, o mercado brasileiro também precisa ficar atento ao chamado tax shaming – movimento em que a sociedade cobra de empresas o recolhimento de tributos no país onde elas concentram sua operação.  

Gustavo Alves, diretor tributário da TIM Brasil, comentou sobre a cobrança de algumas lideranças em diversos setores e companhias para a ampliação de resultados, baseando-se exclusivamente no “que o concorrente faz e você não”. “É preciso estar atento a qualquer pressão e descaminho, pois isso traz uma responsabilidade muito grande ao profissional tributário”. Alves também ressaltou a importância de se investir cada vez mais na transparência e na governança (parte da agenda ESG) como, por exemplo, criar comitês tributários internos para a discussão de temas emergentes. 

Ivan Ferreira, diretor tributário da Siemens Healthineers, destacou que muitas informações antes restritas à mídia, hoje, caem rapidamente nos veículos de comunicação, aumentando a preocupação de companhias com um o risco de imagem vinculadas à área fiscal. “Com a disseminação da agenda ESG, a governança está muito mais constante, aumentando a importância do compliance, do gerenciamento de risco.” 

Rogério Araújo, head de Tax na Tetra Pak, defendeu que o mercado dedique cada vez mais esforços com a transparência: a produção de relatórios de transparência, mesmo para companhias de capital fechado, pode ser um bom caminho. “O alto nível de transparência contribui muito para o crescimento das organizações”, afirmou. 

Profissional de Tax: novo perfil 

No terceiro painel, que tratou sobre o perfil do profissional tributário, o moderador Lúcio Bastos, da Grant Thortnon, convidou três executivos para traçar as principais mudanças que a área vem demandando do seu time. O head de Tax e Jurídico da C&A, Thiago Figo, sublinhou que o mundo e a sociedade mudaram, o que gera a necessidade de pessoas com capacidade adaptativa a novos cenários. “Hoje, um gestor não é mais o detentor de todas as respostas e da verdade. Precisa ser um catalisador do potencial do time”, disse. 

Complementando, Bernardo Valois, gerente tributário da Eneva, realçou a importância de saber lidar com os novos perfis, sempre motivando – uma vez que as novas gerações acabam buscando desafio após desafio, para manter uma carreira em constante movimento. “Também é importante diversificar a equipe com pessoas com diferentes habilidades. Alguns mais relacionais, outros com mais jogo de cintura para lidar com o Estado em questões relacionadas à fiscalização, entre outros.” 

Marcello Veiga, head de Tax da Zurich Brasil, lembrou que as questões operacionais atualmente tendem a ganhar ainda mais velocidade, por meio da adoção de tecnologias. Com isso, defende que os profissionais aproveitem para mergulhar no contexto dos negócios, entender profundamente o impacto dos tributos em produtos e atividades onde a inteligência tributária não é automatizada. “Temos que ter perfis multidisciplinares na área, preparar os sucessores, e buscar por pessoas participativas, estudiosas, com boa capacidade técnica e relacional”, listou.  

A gestão de processos eficientes também foi abordada no ANEFAC Connecta. Com moderação da sócia da consultoria BDO, Queli Morais, o painel contou com a presença de três executivos. Para a consultora tributária e empresarial Fabiana Moreira, da Alltaxes, “devemos ter clareza que os processos vão sempre demandar ajustes. Pessoas mudam, adotamos determinados procedimentos, e temos que acompanhar o que funciona bem, o que precisa ser modificado”. 

Thaís Borges, diretora comercial da Systax, enfatizou que, atualmente, é vital contar com times engajados, que entendam o papel mais estratégico que precisam ter. “Vemos a mudança acontecer com ferramentas que ajudam na gestão, mas a atitude da equipe, que precisa de uma mentalidade inovadora no campo tributário, é um ponto que não pode ficar em segundo plano. Não somos mais apenas aquelas pessoas de back office, estamos mais empoderados dentro das organizações.” 

Alexandre Antunes, da Atlântica Hotels International, lembrou que mesmo empresas com estruturas funcionando bem, com processos, pessoas e automação, a Reforma Tributária apresenta um novo cenário, e todos vão precisar rever seus processos. “O processo não anda sozinho. Hoje, não somos contratados mais porque sabemos toda a legislação tributária, mas porque podemos encontrar soluções inovadoras para resolver problemas”, disse. 

No painel sobre os efeitos da Reforma Tributário no mercado corporativo, Thiago Rodrigues, Edenred Brasil, explicou que é salutar “pensar de forma diferente para ir aos legisladores e mostrar que, nem sempre, o que foi estabelecido no texto é a melhor forma de tributar um determinado negócio, e que outras possibilidades podem gerar benefícios para toda a cadeia”, conta.  

Rodrigo Reis, head de Tax da 99, acredita que a Reforma abre o campo para se questionar os modelos de negócios. “Hoje, somos uma empresa de intermediação, por exemplo. Com a Reforma, abrimos um leque porque os padrões de consumo vão mudar”, disse. 

Para Andressa Mazzaffera, da diretora de tax da Archer Daniels Midland Company, é preciso antecipar tudo o que for possível sobre os impactos que a Reforma trará. “Estamos investindo bem mais em pessoas já pensando na implementação de sistemas e também nos impactos da Reforma. Participamos de todas as reuniões para prever novas necessidades e demandas que teremos adiante. É uma maneira de minimizar as dores e impactos iniciais”, afirmou. 

Segundo Renato Andrade, líder na área de consultoria tributária do escritório Ronaldo Martins & Advogados, a palavra de ordem nesse momento é integração. “Temos que ampliar a integração do fiscal, jurídico e tributário com outras áreas como compras, logística, etc. Além disso, investir em treinamento de toda a equipe que vai interagir com a Reforma”, conta. 

No último painel, que tratou do litígio em relação à Reforma, o head de Tributos da ANEFAC, Roberto Fragoso, comentou que o contencioso não vai acabar, mas existe uma tendência de redução. Opinião acompanhada pelos demais participantes do painel: Julio Cesar Assis, da FCOM; Guilherme Giglio, sócio de consultoria tributária da Deloitte e Marcus Vinícius Gonçalves, sócio de Corporate Tax da KPMG.  

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