Vivemos uma era marcada por mudanças rápidas, globais e imprevisíveis, onde a única constante parece ser a incerteza. Nesse cenário, Leandra Zamboni, psicóloga e especialista em transformação de pessoas e organizações, e Roberto Fragoso, head de Tributos da ANEFAC, acreditam que a postura ética e a capacidade de adaptação aparecem como pilares essenciais para que indivíduos e organizações possam navegar com resiliência e sustentabilidade. Eles abordaram esse tema no Congresso ANEFAC 2025 e reforçam que, mesmo diante de cenários complexos, seguir princípios éticos e manter uma postura flexível são as melhores estratégias para construir um futuro sólido.
Zamboni reconhece que “não falam que o mundo é da incerteza?”. Para ela, o entendimento de que o mundo é um eterno fluxo deve nos orientar: “Só segue o fluxo”, afirmou ela, destacando que essa postura de aceitação é o primeiro passo para agir com responsabilidade e ética. Ela cita como exemplos históricos para reforçar sua mensagem: desde a Revolução Industrial até a criação do dinheiro e da escrita há milhares de anos, a história mostra que grandes transformações — sociais, culturais ou tecnológicas — sempre desafiaram nossa capacidade de adaptação. “Se pensamos na era da informação, algo que democratizou o acesso ao conhecimento, percebemos que a ética se torna ainda mais relevante. Afinal, como podemos garantir que usamos essa força de forma responsável?”.
Por outro lado, Fragoso aponta que “não existe futuro do trabalho que não seja pautado na ética”. Para ele, essa é a premissa fundamental e contínua, que deve orientar todas as ações profissionais e corporativas: “um comportamento que leva em conta a destruição do outro, é uma prática que não tem perenidade”. Nesse sentido, a ética diferencia ações momentâneas de uma trajetória de longo prazo com resultados sustentáveis.
Ele reforça a necessidade de uma cultura organizacional que valorize a integridade e a autenticidade. “Não há sustentabilidade sem ética. Não há legado duradouro sem princípios sólidos”. Para isso, os líderes devem atuar de forma inspiradora, promovendo uma cultura de valores compartilhados, onde a transparência e o compromisso ético estejam no centro de todas as decisões.
A temática do vício moderno: distrações e desconexão
Outro tema de grande impacto é o uso excessivo da tecnologia e os vícios modernos que afastam as pessoas de sua própria autenticidade. Zamboni pontua que “nossa sociedade criou uma cultura de vícios digitais, que impactam negativamente nossa saúde mental, produtividade e capacidade de conexão real”. Ela alerta que o uso desenfreado de redes sociais, por exemplo, muitas vezes vira uma armadilha para consumo de prazeres rápidos, que geram uma sensação momentânea, mas que desconhecem o valor de uma felicidade mais duradoura.
Ela é enfática ao afirmar que “resgatar a autoconsciência, a temperança e o autocontrole são fundamentais para resgatar nossa essência humana”, reforçando a necessidade de cada um de nós refletir sobre os limites e prioridades na relação com a tecnologia e, sobretudo, na condução das nossas vidas à luz de princípios éticos sólidos.
Além disso, existe o papel da ética na construção de legados duradouros. Fragoso cita a teoria de Nassim Taleb, de que “o que resistirá ao tempo é aquilo que é antifrágil”, ou seja, que se beneficia do caos e das instabilidades. Nesse sentido, ele reforça que investir em princípios éticos sólidos é a melhor estratégia para garantir que nossas ações tenham impacto positivo, mesmo em tempos turbulentos. A ética, para ele, é o que confere durabilidade às nossas escolhas, construindo uma base onde valores como honestidade, responsabilidade e respeito prevalecem acima das tendências passageiras.
Enquanto, Zamboni também reforça a importância da educação ética desde as primeiras fases da formação. Segundo ela, perdemos a capacidade de contar boas histórias, principalmente aquelas que alimentam valores e virtudes humanas. Cultivar narrativas que reforcem a ética, a solidariedade e a integridade são fundamentais para criar uma cultura organizacional e social mais forte e coesa.
Ela ressalta que líderes e organizações devem atuar como contadores de boas histórias, capazes de inspirar confiança e senso de propósito. “Contar uma história verdadeira sobre nossos valores e nossa evolução é a maneira mais poderosa de envolver e engajar equipes, especialmente em momentos de incerteza”.
Ambos os especialistas atertam que, diante de um mundo de constantes mudanças, a postura ética e a capacidade de se adaptar de forma consciente serão os principais diferenciais. “A ética não é uma escolha, é uma condição de sobrevivência. E a adaptação é o que permite que continuemos relevantes, autênticos e humanos”.
Ao refletirem sobre o futuro, ficou claro que, mais do que nunca, o caminho sustentável para qualquer organização passa por assumir a responsabilidade pelos seus valores, por agir com integridade e por ser flexível diante dos maiores desafios. Afinal, manter firme a bússola ética em tempos de instabilidade é o que garantirá o sucesso de longo prazo para indivíduos, empresas e toda a humanidade.
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