Ao longo da minha carreira, especialmente na área de vendas, aprendi que liderar vai muito além de conduzir equipes para alcançar metas. Desde o início compreendi que os resultados só são sustentáveis quando as pessoas entendem o propósito do que fazem, sentem-se parte da jornada e percebem que sua voz é valorizada.
Hoje chamamos isso de gestão humanizada, mas quando iniciei minha trajetória, há mais de 25 anos, esse termo sequer existia. Ainda assim, foi o caminho que naturalmente segui, pautada pela transparência, colaboração e clareza de objetivos quando, com muita dificuldade e às vezes até retaliação, comecei a formar meu time.
Apesar de conquistar bons resultados em ações e vendas diretas, sempre tive clareza de que o verdadeiro sucesso da empresa não dependia apenas de mim, mas da performance coletiva da equipe. O desafio, tanto em vendas quanto nas demais áreas que liderei, sempre foi grande, e os números, implacáveis. Mas percebi que, ao explicar não só o que precisava ser feito, mas também o porquê e o impacto de cada ação para o negócio, as pessoas se engajavam de forma muito mais profunda. Assim, deixavam de trabalhar apenas para “bater metas” e passavam a construir um resultado maior, compartilhado, que também lhes pertencia. Essa é, para mim, a essência da liderança humanizada: não apenas acolher, mas colocar as pessoas no centro, reconhecendo-as como verdadeiros agentes de transformação.
Além disso, uma boa gestão não se limita à relação entre líder e colaboradores. Ela se estende a todo o ecossistema, clientes, parceiros e fornecedores. Do outro lado de cada contrato ou negociação, há sempre uma pessoa, e pessoas percebem autenticidade. A forma como nos relacionamos, com clareza, ética e transparência, fortalece vínculos e cria confiança. Essa abordagem é estratégica porque constrói relações de longo prazo em um ambiente corporativo que, muitas vezes, privilegia apenas o resultado imediato.
Esse estilo de liderança também tem uma conexão direta com a nova economia, marcada pela inovação, pela digitalização e pela busca por impacto social. Nesse contexto, a lente feminina na gestão ganha destaque. Ela traz sensibilidade para compreender contextos, maior abertura à colaboração e capacidade de equilibrar performance e empatia, características essenciais para lidar com ambientes de incerteza, com a necessidade de adaptar processos de forma ágil e, ao mesmo tempo, gerar engajamento genuíno das pessoas.
Diversos estudos reforçam esse ponto. Relatórios do McKinsey & Company e do World Economic Forum indicam que empresas com maior diversidade de gênero em posições de liderança apresentam até 25% mais chances de ter rentabilidade acima da média. Além disso, a Harvard Business Review destaca que líderes mulheres tendem a obter avaliações mais altas em competências como comunicação, colaboração e desenvolvimento de equipes, pilares da gestão humanizada. Na nova economia, em que a competitividade está cada vez mais ligada à capacidade de se reinventar, ter mulheres ocupando posições estratégicas não é apenas uma questão de equidade, mas um diferencial de negócios.
É importante reforçar que a gestão humanizada não significa abrir mão da performance. Pelo contrário, ela potencializa resultados porque cria ambientes de confiança e pertencimento, onde as pessoas não apenas executam tarefas, mas se conectam ao propósito da empresa. Trata-se de uma liderança que une estratégia e humanidade, colocando a transparência como alicerce.
No meu livro Furei a Bolha, compartilho como essa abordagem moldou minha trajetória. Sempre acreditei que liderança não é sobre ter seguidores, mas sobre inspirar outros a se tornarem líderes também, e isso só acontece quando criamos espaço para a colaboração, para o aprendizado mútuo e para o reconhecimento de que, no centro de qualquer negócio, sempre estarão as pessoas.
À medida que pensamos no futuro do mercado corporativo, não há como dissociar estratégia de humanidade. As tendências globais, a transformação digital e os desafios de competitividade exigem líderes capazes de unir performance e empatia. Empresas que compreenderem esse equilíbrio estarão mais preparadas para crescer de forma sustentável, fortalecer sua reputação e criar impacto positivo na sociedade.
Gestão humanizada, portanto, não é um modismo ou um luxo, mas uma necessidade estratégica. E líderes que tiverem a coragem de assumir essa postura, especialmente ao reconhecer e incluir a lente feminina como força transformadora da nova economia, certamente estarão moldando o futuro do mercado corporativo.
Artigo escrito por Thaís Borges, diretora comercial e Marketing na Systax e head adjunta de Empreendedorismo e Startups da ANEFAC
