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Saúde mental e alta performance: é possível encontrar o equilíbrio? 

Nos últimos anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno de ansiedade e a depressão afetaram mais de 264 milhões de pessoas no mundo até 2019, e esses números vêm crescendo, impulsionados por fatores como o aumento da pressão no ambiente de trabalho. Diante deste cenário e da criação de normas sobre o tema, como a NR-1, o desafio de equilibrar alta performance com saúde emocional tornou-se uma preocupação central para empresas, profissionais e especialistas na área. De acordo com Dr. Eduardo Troster, professor de Humanidades na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e que palestrou no Congresso da ANEFAC 2025, o papel crucial da ética, da responsabilidade social e do ensino de humanidades na construção de ambientes mais saudáveis são fundamentais. 

Segundo Troster, os fatores que contribuem para o aumento dos transtornos mentais são multifacetados. “O ritmo acelerado da vida moderna, as altas expectativas colocadas sobre as pessoas e o estilo de vida muitas vezes inadequado — como sedentarismo, má alimentação e privação de sono — elevam o estresse e aumentam riscos de problemas emocionais”.  

Ele reforça ainda que a estigmatização relacionada a transtornos mentais diminuiu, o que é positivo, pois aumenta o acesso às informações e ao tratamento, mas também revela que os níveis de ansiedade e depressão continuam preocupantes. “A combinação de fatores ambientais, genéticos e hábitos de vida ineficazes provoca uma verdadeira epidemia de transtornos na sociedade”. 

Para Troster, a reposta está na importância de uma cultura organizacional que priorize a responsabilidade social. Muitas empresas investem em ações sociais mais por estratégia de imagem do que por compromisso verdadeiro, o que pode gerar um efeito superficial. “A cultura de doação e filantropia, se praticada de forma genuína, tem um impacto profundo na saúde mental dos colaboradores”. 

Desta forma, na visão dele, se envolver com causas sociais promove sentido de pertencimento, propósito e realizações pessoais — fatores que reduzem o estresse, aumentam a satisfação e fortalecem o vínculo emocional com a organização. Além disso, práticas de responsabilidade social contribuem para um ambiente mais empático e humano, essenciais para prevenir transtornos e melhorar o clima organizacional. 

Educação em humanidades e desenvolvimento de soft skills 

Outro ponto central defendido por Troster é a relevância do ensino de humanidades na formação de líderes mais empáticos e conscientes. “Compreender o comportamento humano, desenvolver escuta ativa e valorizar relacionamentos interpessoais são habilidades que impactam diretamente a saúde mental, tanto de líderes quanto de equipes”. 

Ele enfatiza que as instituições de ensino têm papel vital na formação de uma cultura de cuidado, promovendo o desenvolvimento da inteligência emocional e de competências socioemocionais — as chamadas soft skills. “Essas habilidades são essenciais para que gestores e colaboradores criem ambientes mais colaborativos, menos competitivos e mais humanizados”. 

Troster aponta que ações simples, como programas de suporte psicológico, treinamentos de comunicação empática e incentivo ao autocuidado, podem fazer a diferença. “Empresas que estimulam a prática de atividades físicas, promovem o bem-estar e oferecem apoio emocional ajudam a reduzir o absenteísmo, a rotatividade e, sobretudo, a prevalência de transtornos mentais”. 

Além disso, acredita que a liderança desempenha papel fundamental nesse contexto. Líderes inspiradores, que demonstram preocupação genuína com seus times, criam uma cultura de confiança e abertura, fatores de proteção contra o aparecimento de problemas emocionais. 

Para ele, a responsabilidade social não é apenas um diferencial competitivo, mas uma estratégia efetiva de cuidado com o capital humano. “Quando as pessoas percebem que suas organizações têm um compromisso real com causas sociais, elas se sentem mais motivadas, valorizadas e engajadas. Isso resulta em maior satisfação, melhor desempenho e, por consequência, maior produtividade. Essa conexão cria um círculo virtuoso: colaboradores mais satisfeitos contribuem para o sucesso do negócio, o que incentiva ainda mais as empresas a investirem em ações sociais, saúde mental e ética”. 

Avanço social, organizacional e mudança de cultura  

Apesar dos desafios, Troster pontua que é possível construir uma sociedade mais equilibrada, consciente e responsável. “Precisamos promover uma educação que valorize a humanização, estimular o desenvolvimento de soft skills e reforçar uma cultura de responsabilidade social genuína. Só assim poderemos combater a epidemia de transtornos mentais e criar ambientes mais humanos e produtivos”. 

Ele reforça que a clareza, de que o verdadeiro avanço social e organizacional depende de uma mudança de cultura — que valorize o bem-estar, a ética e o cuidado com o próximo — é o caminho mais sustentável para o futuro. A atenção à saúde mental, aliada a uma postura ética e socialmente responsável, não é apenas uma estratégia de gestão, mas uma necessidade urgente para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equilibrada.  

Confira a palestra completa:   

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