As normas IFRS S1 e IFRS S2, emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), representam um marco na padronização da divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade e ao clima. A IFRS S1 estabelece requisitos gerais para a divulgação de informações de sustentabilidade, enquanto a IFRS S2 trata especificamente das divulgações relacionadas ao clima.
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio da Resolução nº 193/2024, recepcionou essas normas, posicionando o país como um dos pioneiros em sua adoção. A partir de 2026, companhias abertas, fundos de investimento e companhias securitizadoras deverão divulgar informações com base nesse novo padrão internacional.
Mas o que muda para nós, contadores, com o advento das normas IFRS S1 e S2?
Uma pesquisa recente conduzida pela Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado (CBARI), com o Grupo de Trabalho de Empresas Pioneiras, perguntou quais áreas estão ou estarão envolvidas na implementação das normas. As quatro principais apontadas foram: Contabilidade/Controladoria, ESG/Sustentabilidade, Relações com Investidores e Gestão de Riscos 1.
Para os contadores, essa movimentação tem um impacto direto. A Resolução CFC nº 1.710/2023 atribui responsabilidade técnica ao profissional da contabilidade pela elaboração e asseguração dos relatórios de informações de sustentabilidade, colocando-o no centro desse processo transformador.
Durante o II Fórum de Sustentabilidade do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), realizado em junho de 2025, reforçou-se a necessidade de capacitação. Contudo, é importante destacar que o contador não conseguirá trilhar esse caminho sozinho. O treinamento – ou letramento em sustentabilidade – deve envolver diversas áreas da organização: governança, riscos, relações com investidores e, principalmente, a alta administração.
As normas IFRS S1 e S2 exigem transparência sobre:
- Quais são os riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade e ao clima;
- Qual é o órgão de governança responsável por essas análises;
- Quais são as qualificações desse órgão para o monitoramento;
- Como esses riscos são integrados à estratégia e à gestão da organização;
- Como os impactos são refletidos nas informações financeiras.
A integração entre as áreas de Contabilidade, Riscos, Governança, Relações com Investidores e Sustentabilidade é essencial, pois os riscos e oportunidades de sustentabilidade e mudanças climáticas precisam estar identificados financeiramente. Isso inclui demonstrar os impactos nas Receitas, Despesas na Demonstrações de Resultados, Ativos e Passivos na Posição Financeira, além do impacto nos Fluxos de Caixa.
Como profissionais responsáveis por fornecer informações úteis para a tomada de decisões, os contadores têm as habilidades necessárias para integrar esses dados e traduzi-los em relatórios claros, auditáveis e relevantes. O protagonismo do contador está exatamente na capacidade de entregar informações financeiras de qualidade, agora ampliadas para incluir informações de riscos e oportunidades relacionadas a sustentabilidade e clima.
Mais do que uma obrigação regulatória, trata-se de uma oportunidade de gerar valor. A contabilidade pode – e deve – atuar como indutora de estratégias empresariais, ajudando a transformar riscos em oportunidades, promover a inovação nos negócios e, até mesmo, identificar novos mercados.
Contudo, essa transformação demanda a superação de barreiras, como a resistência à mudança e a carência de capacitação técnica. Por isso, é fundamental a continuidade das discussões, capacitações e investimentos em conhecimento sobre sustentabilidade aplicada à contabilidade.
Preparem-se: os “covenants de sustentabilidade” já são uma realidade. Indicadores como a redução da emissão de gases de efeito estufa, diversidade de colaboradores e da alta gestão, com metas e planos de ação, precisarão ser divulgados e acompanhados com rigor técnico. A compreensão da materialidade financeira – já conhecida pelos contadores – será um diferencial essencial.
Estamos vivendo a evolução da contabilidade. O profissional contábil assume um papel estratégico na construção da resiliência e continuidade dos negócios, fornecendo as informações úteis e necessárias para que as organizações enfrentem as adversidades do presente e prosperem no futuro.
Artigo escrito por Tatiana Ricci, coordenadora do Grupo Gestor ESG na Sanasa e head adjunta de contabilidade da ANEFAC, e Cecília Geron, sócia na Praesum Contabilidade Internacional e head da ANEFAC.
Tatiana Ricci, coordenadora do Grupo Gestor ESG na Sanasa e head adjunta de contabilidade da ANEFAC
