Previous
Next

Brasil agiliza adoção da IA financeira 

A verdadeira transformação acontece quando a IA passa a apoiar decisões preditivas, detectar fraudes com maior precisão e viabilizar uma gestão tributária proativa  

A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa para os departamentos financeiros brasileiros. Hoje, ela é um vetor concreto de valor: 32% das empresas do país já percebem retorno expressivo sobre os investimentos, enquanto 26% apontam resultados até superiores ao esperado. Os dados fazem parte do estudo KPMG Global AI in Finance Report, com cem empresas brasileiras entrevistadas entre setembro e outubro de 2024.  

Esse avanço representa uma mudança de paradigma. No passado recente, o debate girava em torno de “se” e “quando” a IA impactaria o setor. Agora, a pergunta central é: como conduzir essa transformação com responsabilidade, governança, transparência e atento aos riscos? 

Da automação à inteligência preditiva 

A adoção da IA vem ganhando escala e complexidade. A automação de tarefas rotineiras ainda é uma das principais portas de entrada para a tecnologia, mas o verdadeiro diferencial está na utilização para tomada de decisões preditivas, detecção de fraudes e gestão tributária proativa. No Brasil, 60% das empresas já consideram empregar IA generativa para atender especificamente a estas necessidades. 

Mais da metade (58%) das companhias brasileiras estão em fase de implementação e 15% já atingiram maturidade no uso da IA — números que colocam o país em destaque. Ao todo, 71% das empresas no mundo utilizam IA em relatórios financeiros e 57% planejam expandir esse uso até 2027. O Brasil segue alinhado a essas tendências e a boa notícia é que vem fazendo avanços em velocidade crescente. 

Além disso, os investimentos estão aumentando: 42% das empresas destinam entre 5% e 10% do orçamento de TI à inteligência artificial. Pode parecer pouco, mas vale ressaltar que os maiores retornos não se relacionam apenas ao volume de recursos investidos, vinculando-se também à estratégia de adoção.  

Entre as empresas mais maduras digitalmente, 67% superaram as expectativas de retorno sobre investimento (ROI). 

Novos desafios: governança, talentos e cultura 

Por trás dos avanços, surgem desafios que não se resolvem com tecnologia isolada. A segurança de dados é a principal preocupação (63%), seguida pela escassez de profissionais capacitados (55%), custos de implementação (39%) e barreiras culturais (24%). Para superá-los, será necessário fomentar uma nova cultura de confiança e aprendizado contínuo. 

Um dado alarmante: apenas um terço das empresas brasileiras declarou ter implementado um framework robusto de governança para IA. Isso evidencia a urgência de estabelecer mecanismos de controle, validação e transparência. A IA precisa ser auditável, ética e mensurável para gerar valor de maneira sustentável. 

Mudar a mentalidade de um setor historicamente conservador exige lideranças preparadas para lidar com incertezas e estimular a convivência entre pessoas e algoritmos. A capacitação de equipes e a reorganização de estruturas são passos essenciais nessa jornada. 

Nesse novo cenário, os auditores também tem um papel relevante. As empresas esperam deles a revisão dos controles associados à IA. Esse novo posicionamento transforma o auditor em um parceiro estratégico, preparado para lidar com riscos regulatórios e incertezas que surgem à medida que a IA evolui. 

Um novo momento para a IA nas finanças brasileiras 

O Brasil está, de fato, na curva de aceleração. Mais do que acompanhar tendências globais, nossas empresas estão desenvolvendo uma dinâmica própria de inovação. Para manter esse impulso, será preciso amadurecer estruturas, ampliar o uso ético da IA generativa e investir em uma cultura mais aberta à experimentação. 

O futuro da IA no setor financeiro não será definido apenas pela tecnologia em si: ele também depende da capacidade das organizações de decidir estrategicamente, agir com responsabilidade e cultivar talentos preparados para esse novo contexto.  

A questão deixou de ser “se” a transformação vai acontecer. A pergunta agora é: quem vai liderar esse processo? 

Artigo escrito por Rodrigo Gonzalez, sócio líder de Tecnologia e Inovação em Auditoria da KPMG no Brasil e diretor de Risco e Governança de Tecnologia da ANEFAC 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *