Independentemente do nível de governança de uma empresa, os órgãos desse ecossistema, sejam quais forem, devem estar sincronizados e comprometidos em desempenhar o seu papel
Nos últimos dois anos, o termo ESG (Environmental, Social and Governance) saiu de expectativa para começar, em uma escala maior, a se tonar realidade no mundo empresarial. Em 2022, a tendência é que a temática ganhe novos rumos e desdobramentos. Muitas organizações ainda estão entendendo o que realmente é o ESG. Se é algo novo ou se são as mesmas iniciativas com outra roupagem.
Tudo virou ESG. Há empresa que está forçando um pouco suas ações para se encaixar e outras com iniciativas fantásticas. Talvez ainda seja necessário encontrar o ponto central, ações que realmente reflitam esse acrônimo. Apesar de ter havido certa evolução, o que falta, na percepção de Antônio Edson, conselheiro fiscal e membro de Comitê de Auditoria de diversas organizações pela AE Governance, são ações mais práticas e maturidade. “O ESG não é um projeto ou um programa, nem uma jornada, é uma nova forma de pensar o negócio. É preciso mudar o modelo mental das organizações e inserir o ESG no planejamento estratégico. É um momento de transformação que levará tempo, ainda mais porque estamos vivendo alterações voltadas aos shareholders (acionistas) e stakeholders (partes interessadas)”, pondera.
Um ponto de bastante alerta, segundo Marcos Assi, CEO e sócio fundador da MASSI Consultoria e Treinamentos, é o custo de implementação do ESG, pois deve-se alinhar as necessidades a realidade do negócio para que seja mais efetivo e não somente mais uma onda. “É necessário avaliar o perfil da empresa, dos colaboradores, dos clientes e de todas as partes interessadas, levando em conta os propósitos da implementação, para realmente fazer a diferença. Não basta ter regras, códigos de conduta, campanhas de marketing, treinamentos, canais de denúncias, entre outros, mas sim estar no DNA, provocando mudanças de comportamento e de posturas, para que a cultura seja implementada”, ressalta.
Intensificada no início da década de 2000, com diversos programas de sustentabilidade, sem dúvida a letra E do environmental (ambiental) vem sendo trabalhada há bastante tempo. Edson conta que já ouviu diversas vezes que o ESG deveria ser complementado com outras letras como o E de econômico, o F de financeiro e D de diversidade, entre outras. Se essa prática pegar, logo haverá um alfabeto para explorar cada interesse.
Segundo Edson, não há necessidade de outras letras, pois se detalhar esse acrônimo ESG, o G contempla os outros temas. Os princípios básicos de governança, conforme preconiza o Código das melhores práticas de governança corporativa – 5ª Edição/2015 – do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa, já exploram as outras letras. “O G vem conquistando espaço, motivado pelos acionistas e órgãos reguladores. Mesmo que não haja na empresa a necessidade legal de fortalecê-lo, o fazem por iniciativa promovendo assim a estruturação ou reestruturação da sua governança corporativa”, explica.
Não podemos esquecer ainda a confusão que se faz com o S de Social. Ele não está atrelado ao assistencialismo, a filantropia e a caridade. Apesar de ser bom, por exemplo, distribuir cesta básica a ação não é uma iniciativa legítima de ESG. Neste caso, se faz necessário adotar uma causa visando o desenvolvimento de alguma comunidade ou adotando a educação como prioridade e atuando fortemente nessa causa, entre outras ações.
Uma prática de ESG somente será efetiva se todos os órgãos de governança estiverem sincronizados e comprometidos em desempenhar o seu papel, independente da estrutura e do tamanho do negócio e do nível de GC em que esteja. “O envolvimento da alta direção nos processos de governança é fundamental, além disso, os planejamentos estratégicos não podem estar apenas no papel, devem abordar a realidade na busca de resultados com processos, gerenciamentos de riscos e aplicabilidade. O ESG não pode ser somente um selo e sim um modelo de gestão utilizado por todos”, observa Assi.
Numa empresa grande, por exemplo, a diretoria executiva pode propor essas práticas alinhadas ao planejamento estratégico, enquanto o Conselho de Administração, por sua vez, deve aprovar as iniciativas e cobrar a execução da diretoria.
Já o Comitê de Auditoria deve monitorar e mitigar o risco de greenwashing e o Conselho Fiscal fiscalizar se o prometido na estratégia foi cumprido. Muitas organizações inclusive implementaram um comitê de assessoramento ao órgão, denominado ESG, outras estão transformando o Comitê de Sustentabilidade em ESG, de qualquer forma, o Comitê de ESG deverá avaliar e opinar sobre as ações e indicadores para medir a efetividade do ESG, além de assessorar o Conselho.
“Os fundos de investimentos e os órgãos reguladores têm, ainda, um papel essencial no incentivo das práticas de ESG, mas os Conselhos de Administração têm um papel-chave, pois a atuação da administração e dos comitês de assessoramento é o que realmente sustentará essas práticas. O ESG precisar estar na agenda de todos, caso contrário serão inciativas isoladas e não existirá a transformação que as empresas realmente necessitam”, pontua Edson.
Para finalizar, Assi acredita que as práticas ESG não devem ser uma obrigação ou uma ação de marketing, como está acontecendo na busca pela diversidade, é preciso inserir parâmetros bem definidos assim como mudanças que vão ocorrendo aos poucos, mas que sejam capazes de provocar uma mudança de hábitos e das práticas corporativas.