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Metaverso: a nova grande aposta do mundo

A interação em mundos virtuais se consolida como a grande tendência a ser explorada pelas empresas. Modelo deve alterar para sempre a arquitetura cerebral do ser humano

Ultimamente não há outro assunto nas rodas de negócios do que o metaverso. Existem algumas definições para explicar o que é o metaverso na verdade, mas o conceito mais importante “é o de phygital, que é a fusão do físico (physical) com o digital, que vem ocorrendo em etapas sociotecnológicas”, diz Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, professor doutor em livre-docente da UNIFESP, sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind Escritório de Inovação. Ou seja, o metaverso é o que se obtém quando o phygital dá origem a ecossistemas interativos. Não se trata de critério de aplicação binária (sim/não), mas de conceito de aplicação crescente.

A primeira versão do metaverso ganhou tração entre 2009 e 2012, período de adoção massiva dos smartphones ao redor do mundo industrializado, com os sistemas baseados em IOS (de 2007) e Android (de 2008). Neste período, surgiram as primeiras experiências de acesso digital as informações em pontos de vendas, usando smartphones, mas que chegaram ao Brasil depois de um tempo.

Uma segunda onda começou a ganhar notoriedade entre 2015 e 2016. Quando o Facebook, que agora se chama Meta, comprou a Oculus VR em 2014 injetou estímulo neste mercado, que viu o surgimento de diversas empresas, bem como de jogos e outras experiências bastante enriquecidas. Apesar do VR propor uma experiência encapsulada, joysticks e outros apetrechos geram dinâmicas físicas.

Já em 2017 e 2018 chega a terceira onda com o Pokemon Go. Explodindo no mundo todo, lançou luz sobre as possibilidades de realidade aumentada, que deve, segundo Dias, ser a plataforma dominante no metaverso. “A onda atual, simultaneamente impulsionada pela aposta da Meta e pela explosão em popularidade dos NFTs, muitos dos quais têm origem em metaversos da “Web 3.0”, isto é, de plataformas baseadas em blockchain”, explica.

O impacto o metaverso nos negócios poderá ser enorme e de diferentes formas. Em termos de investimentos, as cifras cogitadas são astronômicas. Num curto período de tempo, até 2024, a Bloomberg Intelligence aposta em US$ 800 bilhões, o CEO da Roblox, David Baszucki, em cerca de US$ 200 bilhões ou mais em cada uma das categorias de conteúdo móvel, streaming e mídia social, e o analista do Morgan Stanley, Brian Nowak, em um mercado total de US$ 8 trilhões entre os consumidores dos EUA, conforme divulgado na MarketWatch.

Já em termos de impactos mercadológicos, na visão de Dias, os dois maiores se darão no marketing e no desenvolvimento urbano:

No primeiro caso, se assistirá ao renascimento da publicidade clássica (aquela em que a criatividade contava muito), que teve seu escopo reduzido pela ciência de dados convertida em marketing digital. Isto porque, segundo ele, os ecossistemas oníricos do metaverso terão muito espaço para o desenho de experiências de alto apelo sensorial voltadas ao fortalecimento de identidades de marca e tomadas de decisão. “Os criativos do futuro serão muito mais artistas do que os do passado”, ressalta.

No segundo caso, o desenvolvimento dos chamados digital twins irá servir de base para a ampliação  da prática do conceito de cidade inteligente. Tanto quem mexe com sensores e dados, quanto arquitetos e engenheiros civis, que verão suas profissões e modelos de negócio mudarem em função disso.

Outra questão, apontada por Dias, é que o metaverso deve acelerar a digitalização na primeira infância e alterar para sempre a arquitetura cerebral do ser humano. Deve, ainda, impulsionar a adoção de CBDCs no mundo inteiro reduzindo a zero (ou quase isso) o dinheiro em papel. Bem como criar incontáveis oportunidades de relacionamento social à distância e fortalecer a internacionalização do trabalho, bem como o formato híbrido. O metaverso diminuirá o tato social e aumentará o grau de neuroticismo na sociedade.

“Por outro lado, aumentará a concentração de renda dos países exportadores de tecnologia em relação aos importadores e fortalecerá o papel da China no tabuleiro geopolítico. Por fim, deve levar ao declínio do Facebook/Meta cujo modelo de metaverso não possui a robustez de concorrentes como a Microsoft. Hoje, o impacto do metaverso na vida das pessoas é quase nada, mas se tudo o que prevejo acontecer, será total”, finaliza Dias.

Álvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, professor doutor em livre-docente da UNIFESP, sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind Escritório de Inovação