Em 2022, para realizar a avaliação técnica das ganhadoras do Troféu Transparência, os avaliadores seguiram, pela primeira vez, um check list, um formulário, onde cada um aplicou notas as demonstrações financeiras seguindo critérios predeterminados, mesmo a análise sendo sempre subjetiva. Na triagem inicial se procurou dar atenção aquelas que possuem grande impacto ao mercado e maior volume de negociação na bolsa de valores, pois essas têm muito o que comunicar ao usuário. Em torno de 500 demonstrações de diversos setores foram analisadas, excluindo bancos e instituições financeiras.
Normalmente, as empresas têm até março para fazer a publicação legal da demonstração financeira, então, depois desse período, a ANEFAC fez a captação dos documentos. Esse processo dispende bastante tempo, pois é um volume grande. Só foram coletadas aquelas que haviam sido publicadas em veículos oficiais, não se considerou as publicações nos sites institucionais, pois não são necessariamente os documentos oficiais. Ou seja, aqueles que devem seguir o escopo determinado pela legislação.
O conceito empregado no formulário – check list – segue uma série de indagações importantes para determinar o nível de transparência da demonstração financeira, alguns aspectos mais gerais e outros mais detalhados, como por exemplo, se o conjunto atendeu a um determinado procedimento de normas e princípios contábeis nacionais e internacionais. Uma série de pontos técnicos estão inseridos no formulário, o avaliador, quando analisa, procura respostas a eles. Cada avaliador tem uma forma própria de analisar uma demonstração financeira, o check list padroniza isso, mesmo existindo a subjetividade.
A ANEFAC reforçando as suas boas práticas de governança corporativa e o desenvolvimento de procedimentos estruturados, mostrou um processo altamente profissional este ano. O fluxo de avaliação iniciou com a Diretoria Executiva do prêmio (estabelecimento de critérios e coleta) depois passou para o Comitê Técnico (triagem inicial), seguindo para o Comitê Acadêmico (avaliação técnica) e, por último, para a Comissão Julgadora (seleção final).
Marta Pelucio, presidente nacional na ANEFAC
“Renovamos nossa cultura, estipulando novas etapas e trazendo novas parcerias. Reforçar as boas práticas de governança do Troféu Transparência é uma grande responsabilidade. Todos ganharam muito. O processo teve um resultado muito positivo. Tivemos todo o cuidado para que tudo saísse corretamente e fosse bem estruturado. Contamos com o apoio de muitas pessoas interessadas em agregar para esse processo”, pontua Marta Pelucio, presidente nacional na ANEFAC.
Na visão de Pelucio, o maior ganho com a renovação dos processos do prêmio é a transparência. “Para entregar um prêmio de transparência, temos que ser muito transparentes. Nós ganhamos muito com a transparência desse prêmio, todo o seu fluxo, até chegar às ganhadoras, incluindo o anúncio das ganhadoras, foi inédito em 2022. A avaliação, em todas as suas fases, segue critérios rígidos, estruturados e transparentes. Agora, cada vez mais, vamos sempre nos adequar ao mercado e torná-lo sempre mais transparente”, diz.
Bolí Rosales, superintendente na ANEFAC, acredita que após 25 anos de existência do prêmio, todas as práticas adotadas no fluxo de avaliação em 2022 são um marco enorme na história, pois mostra o quanto se está atento ao mercado e procurando sempre evoluir e melhorar. “A entidade passou por várias mudanças nos últimos anos, se modernizou e revisitou os seus processos de boas práticas de governança, com o fluxo deavaliação do prêmio não foi diferente. Implantamos novos processos, readaptamos a estrutura internamente, desenvolvemos um check list criterioso, estabelecemos métricas e parâmetros aliados com o mercado e trouxemos instituições e profissionais com alto saber”, explica.
Bolí Rosales, superintendente na ANEFAC
FECAP chega como novo parceiro
Este ano, um novo parceiro se juntou à ANEFAC para a avaliação técnica das ganhadoras do Troféu Transparência, a FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). O reitor da instituição, Edison Simoni, avaliou que é uma honra estar junto à associação, que tem uma tradição enorme na premiação das companhias que se destacam pela transparência no Brasil.
Edison Simoni, reitor na FECAP
“É uma oportunidade de fazermos essa interação entre a academia e o mercado. É algo que sempre buscamos, pois é fundamental para o desenvolvimento do próprio país. Já para o nosso time foi importante colocar a teoria em prática, principalmente porque estudam muito sobre contabilidade e a importância da transparência para o mercado. Eles puderam pôr a mão na massa com muita responsabilidade e dar uma contribuição técnica para o prêmio e a eles próprios, pois fizeram uma leitura crítica e criteriosa das demonstrações financeiras, e aprenderam sobre essas companhias, sobre os setores e, no final das
contas, sobre o Brasil, porque a história do Brasil está refletida de alguma forma no trabalho que essas companhias fazem e do escopo que têm. Ao mesmo tempo que é uma honra, é uma grande responsabilidade, pois a premiação é altamente valorizada pelo mercado”, ressalta.
Edison enxerga que a parceria só tende a aumentar, pois a ANEFAC reúne executivos profissionais que a FECAP forma e isso aumenta a chance de trazer conteúdos e experiências relevantes para todos, que é o foco fundamental das duas entidades. Especificamente sobre o prêmio, ele pontua que o mercado de capitais só funciona adequadamente se houver a oportunidade de as empresas fazerem captação de recursos a um custo razoável e acessível. Assim, se tiver uma transparência adequada o investidor pode tomar a decisão de alocação de capital. “Ao fomentar as boas práticas de transparência, o Troféu Transparência fomenta o desenvolvimento do próprio mercado financeiro de capitais do Brasil, que é algo fundamental para o desenvolvimento do país, que depende muito de o bom funcionamento desse mercado para as coisas girarem, para a economia fluir”, avalia.
Comitê técnico assumiu papel analítico na triagem inicial
De fato, esse ano, segundo Clóvis Ailton Madeira, conselheiro na ANEFAC e coordenador do Comitê Técnico do Troféu Transparência, a análise das premiadas foi uma experiência integralmente nova. Ele explica que o processo foi conduzido diretamente pela associação e, para isso, a estrutura de análise foi reformulada com a criação de novos comitês.
“A primeira etapa é a coleta das demonstrações financeiras publicadas, que é uma obrigação legal, realizada 100% pela equipe da própria sede, na qual era feita a classificação delas, se estabelecendo o primeiro filtro. Depois, o Comitê realizou a segunda etapa, no contexto geral, aquelas que foram adiante para a avaliação técnica não podiam ter nenhuma ressalva e nem um comentário negativo. Houve muitas eliminações neste momento”, pontua.
Clóvis Ailton Madeira, conselheiro na ANEFAC
Entre os pontos técnicos, se destacam a forma de apresentação das demonstrações, a clareza, atendimento às normas de contabilidade e a qualidade geral que permite ao usuário uma boa visualização da empresa. Clóvis aponta que o check list englobou uma gama muito grande de elementos, incluindo diversos pontos relacionados a ESG, sustentabilidade e outros que estão bem alinhados com as demandas do mercado. A avalição técnica foi feita de forma bem analítica. O questionário tem uma atribuição de pontos que permite classificar todas as peças de divulgação. Aquelas que foram consideradas de melhor qualidade pela pontuação foram para a comissão julgadora. Lembrando que não é avaliado apenas o que é obrigatório, mas o comportamento sobre aquilo que é relevante. Não é apenas um questionário, é uma avaliação criteriosa.
“Em 2022, aprimoramos do ponto de vista de governança, criamos dentro da ANEFAC grupos específicos, para cada etapa de avaliação, individualizados e separados para realizar tarefas específicas. Isso dá uma força muito grande de governança. O questionário analítico, preenchido para cada uma das empresas avaliadas, assim como a documentação de todo o processo está arquivado dentro da Associação. Temos um amplo conhecimento analítico de cada uma dessas empresas. Usamos o mesmo conceito de seriedade e independência de sempre, dos últimos 25 anos, e aprimoramos a governança. Esse conjunto de procedimentos, embora aplicados pela primeira vez, foi um sucesso. Agora, já podemos revisar para os próximos anos.
Avaliação Técnica seguiu check list alinhado à avaliação subjetiva
Para Ahmed Sameer El Khatib, professor pesquisador do mestrado em Ciências Contábeis na FECAP e coordenador da Avaliação Técnica do Troféu Transparência ANEFAC, a experiência foi muito gratificante e, ao mesmo tempo, enriquecedora, pois conhecer diversas demonstrações, de diversos setores, a forma como se apresentam para o mercado e para os investidores é importante.
Ahmed Sameer El Khatib, professor pesquisador na FECAP
“É a primeira vez que FECAP, como instituição, participa. Tudo novo. Foi além dos muros da sala de aula e do que estamos acostumados a fazer no dia a dia. Uma das melhores experiências que nossa escola teve, que eu particularmente tive, um projeto de grande impacto, que demandou muito tempo e esforço. Ficamos muito felizes em participar desse projeto, que foi cansativo e duro, mas muito prazeroso”, diz.
Quando as demonstrações chegaram à Avaliação Técnica, já haviam passado por uma peneira, realizada pela Diretoria Executiva e Comitê Técnico. Nesta primeira fase, houve eliminações. “Avaliamos 90 demonstrações financeiras divididas igualmente entre os integrantes. A análise seguiu um criterioso check list definido pela ANEFAC. Após a divisão, nos reunimos semanalmente durante 1 mês para alinhar os requisitos e garantir que todos seguiam as mesmas bases técnicas e para que nenhum equívoco fosse cometido. Cada um analisou oito ou nove companhias abertas e ao término enviamos todas as avaliações à Comissão Julgadora”, explica Ahmed.
Compôs o grupo, responsável pela Avaliação Técnica, 14 integrantes entre professores, alunos e ex-alunos da FECAP com experiência acadêmica e prática, além de vasta e sólida experiência com auditoria independente e preparação das demonstrações financeiras. Entre os requisitos necessários aos profissionais, entendimento profundamente sobre a forma e o padrão do que é esperado das demonstrações financeiras. Ahmed explica que se buscou executivos mais experientes para esse momento. Houve vários interessados, mas a procura foi por aqueles que tivessem mais formações em auditoria e trabalhado efetivamente com as DFs. “Assim, podemos garantir qualidade no processo de avaliação”, avaliou.
Segundo Ahmed, neste ano, o principal ponto que chamou atenção foi a variedade de demonstrações financeiras. Elas, na verdade, são o elo entre a empresa e quem está fora da empresa. Portanto, precisam comunicar bem e refletir de maneira fidedigna a realidade econômica da companhia. “Percebemos que, a depender do setor, como energia, varejo, serviços e outros havia uma variedade na forma, apesar de seguirem o padrão, as normas contábeis e o que é recomendado pelas boas práticas de contabilidade”, pontua.
Outro ponto apontado por Ahmed é a linguagem utilizada nas demonstrações financeiras avaliadas que variava bastante de uma para a outra, ora mais prolixo, ora mais simplista. “Mas, de certa forma, foi o conjunto de variedades enriqueceu a análise e possibilitou que entendêssemos a forma pela qual as empresas acabam se comunicando com o meio externo. O que mais chamou atenção primeiro, claro, a complexidade do trabalho, não é só um check list, envolve muito a subjetividade e experiência de quem está analisando. O “Oscar da contabilidade” vai premiar aquela que é mais transparente. E, não é só naquilo que é exigido, mas o que é extraordinário, que a gente chama de accountability”, observa.
Entre os critérios, em linhas gerais, as demonstrações financeiras deveriam apresentar um conjunto de informações que verdadeiramente se comuniquem com o meio externo e que apresentem a posição econômica-financeira do ponto de vista do que é relevante para a tomada de decisão. Ahmed explica que algumas publicam informações mais técnica, que poucas ou nenhuma pessoa entende, só para cumprir a norma. Para ele, o mais importante é que elas sejam de maneira realista, transparente e sem necessariamente ser exigida como, por exemplo, a questão da sustentabilidade. Algumas empresas já começam a pensar nisso de certa forma, talvez tenham aí uma vantagem competitiva, em relação às demais nos próximos anos. Mas apresentar aquilo que é exigido e apresentar bem, numa forma clara, concisa, objetiva e muito explicativa já é um grande diferencial.
Nesta etapa, foram analisadas 90 empresas e, deste total, 30 passaram para a próxima fase. É 10% da quantidade daquelas de capital aberto em atividade no Brasil. São empresas de extrema relevância para o mercado e com um impacto social e econômico muito forte. O que realmente faz a diferença, na percepção de Ahmed, sobre as avaliadas é que dentro dos quesitos, tem o que é exigido, obrigatório e mandatório, aquelas que se sobressaíram foram além daquilo do exigido, não para escrever tudo sobre a realidade da empresa, mas aquilo que de fato é relevante para o usuário e a tomada de decisão. “Ao preparar as demonstrações, precisa se colocar no lugar de quem toma a decisão. A parte técnica é importante, relevante e mandatória para fins fiscais e societários brasileiros, mas precisa ter uma linguagem acessível, nem muito simples, nem muito prolixa, mas acessível”, ressalta.
Comissão julgadora centrou avaliação aos pontos modernos das demonstrações financeiras como ESG e governança
A comissão recebeu as 30 empresas indicadas pela Avaliação Técnica para escolher as que mais se destacaram em cada uma das categorias.
“Olhamos detalhadamente todas as demonstrações financeiras. Notamos que elas estão a cada ano mais padronizadas, muito parecidas. Estão chegando a um patamar de comparabilidade enorme, pois devem fazer benchmarking de uma para outra. Além da boa qualidade das DFs, existe um patamar de divulgação muito parecido. As notas explicativas e o conteúdo são muito parecidos e lógicos, respeitando a atividade e os anos de atividade de cada”, pondera Pedro Lúcio Siqueira Farah, conselheiro na ANEFAC e coordenador da Comissão Julgadora do prêmio.
Pedro Lúcio Siqueira Farah, conselheiro na ANEFAC
Em termos de pontos de destaque, Pedro entende que o relatório de administração está dando mais ênfase a itens como ESG, que é o que é hoje a modernidade das divulgações, mas ao mesmo tempo existe pouca divulgação sobre inflação, por exemplo. Ele comenta que se esperava nos relatórios de administração, comentários sobre os efeitos da inflação em exercícios anteriores, mas não aconteceu. Em apenas uma empresa isso estava colocado. Em termos de ESG, as informações estão aumentando a cada ano, mas ainda há muito o que fazer. Muitas passaram longe disso, mas outras deram bastante atenção a essa questão. Outro tópico que também ainda precisa melhorar são as informações sobre governança.
Sobre os critérios de avaliação, Pedro explica que, é importante ficar claro, que a o Troféu Transparência não busca erros, pois essas demonstrações financeiras foram auditadas por auditores independentes e registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e têm uma qualidade esperada. “Quando lemos as demonstrações, nós queremos entendê-las. Analisamos se transmite a sensação de transparência. Isso é muito importante e está intimamente ligado ao objetivo do prêmio, que é transparência. Existe um conjunto de índices dentro das peças contábeis e financeiras, como passivo, resultado etc., a comissão atualiza esses índices e faz perguntas sobre o que está sendo publicado: por que a despesa aumentou? Por que diminuiu? Por que o ativo está maior? E por aí vai”. Depois, revisa o relatório de administração e as notas explicativas, procurando as respostas, assim como acontece no check list”, finaliza.