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O Bobo da corte 

Erasmo de Rotterdam, no livro *O Elogio da Loucura*, publicado em 1509, afirma que a pior de todas as loucuras é, sem dúvida, tentar ser sensato em um mundo de doidos. Segundo Erasmo, os loucos não procuram a felicidade, por isso são felizes, pois apenas vivem. 

Pensando nisso, lembrei-me do morósofo. Palavra que vem do grego, fusão das palavras *mória* e *sofos*, que significam loucura e sabedoria, respectivamente. O morósofo é, então, o sábio louco, popularmente chamado de “bobo da corte”. O papel do bobo da corte é produzir uma espécie de desrespeito sadio*, pois sua função é, por meio do humor, dar bons recados ao rei, como: lembrar-lhe que o poder é transitório, que ele não será eterno, que ele pode ter mais traidores ao seu redor do que amigos, que o poder pode corromper, que a riqueza desperta cobiça, inveja, e muitas outras coisas que um governante precisa sempre lembrar, mas que muitos bajuladores não têm coragem de dizer. 

Bajuladores não são honestos no feedback. Por isso, o sábio louco é tão importante. O bobo da corte é alguém que faz do humor um instrumento de reflexão muito poderoso, como nos ensina a peça *Rei Lear*, de Shakespeare, escrita 100 anos depois do livro de Rotterdam. Porém, tudo tem limites, e o excesso de humor pode não servir aos fins desejados. 

Conta a história que, uma vez, um dos bobos da corte desagradou ao rei ao dar-lhe um tapa no traseiro. Quando o rei pediu explicações sobre seu ato, o bobo respondeu: “Me desculpe, você estava de costas, achei que fosse a rainha”. 

Por conta dessa piada, o bobo foi condenado à morte, já que o ato cometido contra a rainha era crime capital. Mas, como o rei tinha muito afeto por seu bobo, deu-lhe a opção de dizer como queria morrer. Então, o humorista, o sábio louco, que era ainda bastante jovem, disse: “Eu quero morrer de velhice”. 

E assim, o rei, sem querer, deu ao sábio louco a possibilidade de continuar sua vida feliz, não se sabe se no mesmo emprego. 

*Para ouvir mais sobre o desrespeito sadio, clica aqui: https://www.youtube.com/watch?v=WeSWsE_xLIo&t=86s 

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Se você tem um causo inusitado, engraçado ou curioso envolvendo o mundo corporativo para contar, envie para esta coluna pelo e-mail comunicacao@anefac.org.br, que nosso lorde está pronto para escrachar. Mas pode ficar tranquilo, como todo lorde que se preze, Lord Excrachá é discreto. (Importante: as identidades dos colaboradores desta coluna não serão divulgadas.)     

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Lord Excrachá é uma criação de Emerson W. Dias, head de Capital Humano da ANEFAC e fundador do portal e da série de livros O Inédito Viável.     

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