
A crescente busca por práticas agrícolas mais sustentáveis e a necessidade de reduzir o uso excessivo de fertilizantes químicos têm aberto espaço para inovações no agronegócio brasileiro. Neste contexto, o uso de algas marinhas como biofertilizantes se destaca como uma alternativa promissora. Wilson Nigri, representante da Tecnotropic e da AGRO SEA, discute os impactos dessa prática no setor agrícola nacional.
Nigri explica que as algas marinhas contêm na sua composição físico-química macro nutrientes essenciais, como cálcio e magnésio, além de diversos oligo-elementos vitais para a vida vegetal, animal e humana. “Solos estruturados com algas da espécie Lithothamnium contêm grande concentração de carbonatos de cálcio e magnésio que, ao contrário daqueles oriundos de rocha, estão biologicamente disponíveis”, afirma. Isso significa que sua absorção pelas plantas é facilitada, resultando em menor tempo para a volatilização do nitrogênio e a lixiviação do potássio. Ao final, essas condições podem resultar em “maior produção por unidade de área e redução dos custos com insumos”, aumentando, consequentemente, a competitividade do agronegócio.
O especialista também ressalta os benefícios específicos que as algas marinhas oferecem em termos de produtividade. Um dos principais pontos é a “redução dos defensivos químicos”, que resulta da proteção das plantas contra fungos, pragas, nematoides e bactérias fitopatogênicas. Ele cita a Kappaphycus alvarezii, uma macroalga vermelha utilizada desde a preparação das sementes até a pulverização das plantas ao longo do ciclo da cultura. “O aumento da produtividade decorre da umidade e temperaturas equilibradas, além da menor competição de ervas daninhas”, completa Nigri, destacando o papel das algas no fortalecimento do ecossistema agrícola.
A proposta da AGRO SEA é demonstrar que benefícios socioambientais podem ocorrer em harmonia com o retorno para empresários e investidores. “Advogamos o conceito do ROI Exponencial (ROI x Social ROI)”, afirma Nigri, explicando que ao longo dos próximos 18 meses, a organização realizará Provas de Conceito em diferentes cultivos, incluindo gramíneas, oleaginosas, fruticultura e até na pecuária. O objetivo é comprovar que a produção de alimentos e energias renováveis provenientes da biomassa podem “recuperar terras degradadas e aumentar o rendimento agrícola”, tornando o agronegócio mais competitivo e sustentável.
A eficácia do uso de algas marinhas na agricultura não é uma novidade no Brasil. Instituições como a EMBRAPA, ESALQ, UFLA e UFV têm conduzido estudos sobre as propriedades das algas, especialmente o Lithothamnium e a Kappaphycus alvarezii. Além disso, pesquisas realizadas na Austrália, especialmente na James Cook University, destacam a Asparagopsis taxiformis, uma alga com a capacidade de reduzir a emissão de gás metano durante o processo digestivo de ruminantes.
Nigri conclui que a flora marinha pode, assim, “prover cálcio, magnésio e potássio em grande escala”, além de contribuir para o sequestro de CO2 e a redução da emissão de CH4. Com essas evidências, o uso de algas marinhas se apresenta como uma solução eficaz e sustentável para os desafios enfrentados pelo agronegócio brasileiro.
