Nos últimos anos, a gestão de recursos de saúde vem passando por transformações significativas, especialmente no que diz respeito à otimização de custos e à melhoria dos resultados clínicos. Nesse contexto, o Patient Blood Management (PBM) tem se destacado como uma estratégia essencial não só para a segurança dos pacientes, mas também para a sustentabilidade financeira das instituições de saúde.
O que é o Patient Blood Management (PBM)?
O PBM é um conjunto de práticas clínicas e administrativas que visa a otimização do manejo do sangue do paciente. Em vez de depender exclusivamente de transfusões de sangue, o PBM promove o uso racional desse recurso, focando na prevenção da anemia, na minimização da perda de sangue durante procedimentos cirúrgicos e na utilização de estratégias alternativas às transfusões.
Benefícios para os Pacientes e Instituições
A implementação do PBM tem demonstrado resultados impressionantes, tanto na qualidade do atendimento quanto na redução de custos. Diversos estudos revelam que o PBM pode reduzir em até 40% o uso de transfusões de sangue. Essa diminuição não só protege os pacientes dos riscos associados às transfusões, como também melhora indicadores críticos como o tempo de internação hospitalar, o tempo de permanência na UTI e as taxas de morbidade e mortalidade.
Um estudo realizado na Austrália, por exemplo, mostrou que a adoção do PBM reduziu a necessidade de transfusões em até 41%, resultando em uma economia de mais de 18 milhões de dólares australianos por ano para o sistema de saúde. Além disso, o tempo de internação foi reduzido em 21%, e as admissões na UTI caíram 28%, o que reforça a eficácia do PBM não apenas na gestão de recursos, mas também na melhora da qualidade do cuidado ao paciente ( SciELO SP).
No Brasil, a implementação do PBM tem sido um desafio, mas as instituições que adotaram essa abordagem já relatam benefícios significativos. Dados recentes indicam que o custo médio de uma transfusão de sangue no país é de aproximadamente R$ 1.000, incluindo o processamento, a logística e os cuidados subsequentes. Considerando que o Brasil realiza cerca de 3,6 milhões de transfusões por ano, a economia potencial é substancial (World Heart Federation).
Economia de Recursos e Impacto Financeiro
Os impactos financeiros do PBM vão além da redução direta no uso de sangue. Ao diminuir a incidência de complicações associadas às transfusões, como infecções e reações adversas, os hospitais podem reduzir drasticamente os custos de tratamento. Um estudo publicado pela famosa revista médica Transfusion mostrou que os pacientes que recebem menos transfusões têm uma recuperação mais rápida, necessitam de menos tempo na UTI e têm menores taxas de reinternação, todos fatores que contribuem para a redução dos custos hospitalares (SciELO SP).
Globalmente, os gastos com transfusões de sangue são estimados em cerca de 10 bilhões de dólares anuais. No Brasil, esse valor gira em torno de 2,5 bilhões de reais por ano, considerando apenas os custos diretos. A adoção em larga escala do PBM poderia, portanto, representar uma economia de centenas de milhões de reais ao ano, aliviando significativamente a pressão sobre os orçamentos hospitalares e do sistema de saúde (SciELO SP).
A Posição da OMS e o Futuro do PBM
Reconhecendo a importância do PBM, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a implementação do PBM como uma urgência global, recomendando que os países adotem essas práticas para melhorar os desfechos clínicos e otimizar o uso dos recursos. Segundo a OMS, a adoção do PBM pode ser uma ferramenta poderosa na busca por um sistema de saúde mais sustentável e eficiente, especialmente em tempos de crescente demanda e recursos limitados (SciELO SP, World Heart Federation).
O Patient Blood Management não é apenas uma prática de saúde mais segura para os pacientes, mas também uma estratégia financeira inteligente para as instituições de saúde. Com a crescente pressão por eficiência nos sistemas de saúde ao redor do mundo, o PBM surge como uma solução viável para melhorar o cuidado ao paciente, reduzir custos e, ao mesmo tempo, preservar um dos recursos mais valiosos e limitados: o sangue do paciente!
Artigo escrito por André Giordano Neto, superintendente corporativo na Fundação Zerbini e head de Inteligência de Mercado na Saúde na ANEFAC, e Guilherme Rabello, head de Inovação do Instituto do Coração do HCFMUSP e Fundação Zerbini.