CEm um cenário global em que as questões ambientais, sociais e de governança tornaram-se essenciais para a sustentabilidade e competitividade das organizações, o professor e coordenador acadêmico da FGV, Fabrício Stocker, destaca a importância de destacar e reconhecer as boas práticas ESG (Environmental, Social, Governance). Ele foi um dos palestrantes no 1º ESG Day, realizado no Rio de Janeiro, juntamente com Breno Figueiredo, Christina Barbosa e Lys Piovezan.
Segundo Stocker, “o reconhecimento de boas práticas ESG cumpre uma função estratégica de sinalização institucional. Como um mecanismo de incentivo reputacional, orientando organizações sobre quais comportamentos e estratégias são socialmente valorizados por múltiplos stakeholders – sociedade civil, mercado, órgãos reguladores e academia.”
Ele reforça que “mais do que premiar a conformidade, o objetivo deve ser estimular a inovação orientada por propósito, destacando práticas que não apenas atendem aos critérios técnicos de ESG, mas que demonstram capacidade transformadora nos territórios onde atuam. Isso implica valorizar ações com impacto sistêmico, que promovem justiça socioambiental, geração de valor compartilhado e resiliência organizacional frente aos riscos climáticos e sociais.”
Na visão de Stocker, “no plano simbólico, a agenda ESG não é um modismo, mas uma resposta estruturante aos desafios do século XXI, em especial no contexto brasileiro, marcado por desigualdade, crise climática e baixa confiança institucional. A abordagem ESG demanda um reposicionamento cultural e cognitivo dentro das organizações. O diálogo interno precisa ser transversal, envolvendo diferentes níveis hierárquicos e áreas funcionais, e deve estar pautado em três pilares: clareza estratégica, engajamento participativo e aprendizado contínuo.”
Ele explica que “boas práticas surgem quando o ESG deixa de ser um ‘departamento’ e se torna um modo de pensar e operar. Isso exige que as empresas se perguntem não apenas ‘o que fazemos de ESG?’, mas ‘como tomamos decisões considerando múltiplas dimensões de impacto?’. As empresas que se destacam nesse aspecto não apenas reportam dados, mas constroem narrativas coerentes entre discurso e prática, com sistemas de escuta ativa, incentivo a lideranças locais e métricas que capturam valor além do econômico, como bem-estar coletivo, inclusão e regeneração ambiental.”
Stocker, reforça que “a coerência entre propósito, missão, valores e práticas ESG é o que legitima uma organização no cenário atual. Cada vez mais, o mercado, a sociedade e os próprios colaboradores exigem autenticidade institucional. Isso significa que a empresa deve ser capaz de viver aquilo que declara como norte estratégico.”
Na avaliação de boas práticas, ele acredita que: “buscamos identificar se a organização realmente integrou os princípios ESG no seu core business, em vez de os tratar como apêndices filantrópicos ou estratégias de reputação. O alinhamento é evidente quando se observa, por exemplo: a incorporação de critérios ESG na avaliação de investimentos e na remuneração de executivos; a governança inclusiva e transparente de decisões críticas; e a consistência entre compromissos assumidos publicamente e evidências de execução no campo. Esse alinhamento, quando genuíno, permite que a empresa transite da lógica do ‘compliance’ para a lógica do ‘compromisso transformador’.”
Para Stocker, “empresas reconhecidas por suas boas práticas ESG tendem a conquistar posições de liderança não apenas financeira, mas simbólica e institucional. O mercado já não se orienta apenas por lucro, mas por resiliência, legitimidade e impacto. Em avaliações acadêmicas e financeiras, observa-se que essas organizações acessam capital com menor custo e maior estabilidade; atraem e retêm talentos com mais facilidade; possuem menor exposição a riscos regulatórios e reputacionais; e, sobretudo, lideram narrativas setoriais, sendo capazes de influenciar cadeias inteiras e ecossistemas locais.”
Por fim, finaliza explicando que “o reconhecimento em premiações como a da ANEFAC funciona como um selo de confiabilidade e inovação ética, reforçando que a empresa está alinhada às tendências globais e pronta para liderar uma economia mais justa, verde e inclusiva.”
Fabrício Stocker, professor e coordenador acadêmico da FGV
