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COP-30: expectativas, desafios e o papel do Brasil na transição para uma economia sustentável 

 medida que se aproxima a realização da COP-30 no Brasil em 2025, cresce a expectativa de que o evento possa impulsar avanços decisivos na transição global rumo a uma economia mais sustentável e regenerativa. Para Breno Figueiredo, economista, sócio e diretor de Pesquisa Econômica e Finanças Sustentáveis da Ambipar Asset Management, essa oportunidade deve ir além das discussões tradicionais, destacando-se pelo foco na criação de incentivos econômicos capazes de catalisar o envolvimento do grande capital internacional. 

Além da COP-30, o país ainda sediará a COP-15 da Convenção sobre Espécies Migratórias de Animais Silvestres – CMS, em março de 2026 em Campo Grande. Segundo ele, embora a imprensa dê destaque às Conferências do Acordo Climático, é fundamental avançar mais profundamente nos acordos de biodiversidade e desertificação. Nesse sentido, sua análise é clara: “nossa apreciação sobre estes três temas é econômica. E talvez seja esta a abordagem principal da COP-30, pois precisamos avançar nos incentivos econômicos para que os capitais alocados pelas grandes corporações internacionais, bancos e agentes do mercado de capitais encontrem os estímulos de adição de capital necessários, para financiarem da transição da economia industrial para uma nova economia sustentável ou regenerativa.” 

Para Figueiredo, mecanismos como o Artigo 6 do Acordo de Paris são essenciais nesse processo. “São estes mecanismos que irão dotar o Brasil e os países em desenvolvimento dos recursos que eles precisam para promover suas transições. Os US$ 100 bilhões por ano negociados com os países desenvolvidos (que não vêm sendo cumpridos) não são dispensáveis, mas também não são suficientes. Nosso foco deve estar no Art. 6º, pois é nele que se encontram as soluções para regulamentar novos mecanismos de mercado e estimular a alocação de capitais na escala necessária”. 

Neste ano, o Acordo de Paris completa 10 anos, ele reforça que ele “não precisa ser revitalizado”, mas sim entendido como uma meta que avança como um veleiro, ajustando suas rotas conforme o vento. “A questão é a velocidade de navegação, reduzida pela dispersão de esforços, ajustando velas que não são as prioritárias para ganhar a regata.” Para Figueiredo, os principais obstáculos hoje são crises de escassez — como a falta de capacidade da atmosfera, oceanos e recursos hídricos de absorverem os impactos humanos — que surgem das falhas de mercados livres e incentivos econômicos mal estruturados. “A oferta da infraestrutura natural da Terra tornou-se claramente inferior à demanda imposta pelas nossas tecnologias de produção.” Assim, a grande questão econômica do momento é: “Quais incentivos econômicos eu tenho para regenerar e aumentar essa infraestrutura natural, garantindo o sustento de 8 bilhões, que deve chegar a 10 bilhões, de habitantes?” 

Sobre os maiores obstáculos enfrentados pelo mercado para atingir uma economia de baixo carbono, ele destaca que “o entendimento é o maior deles”. “Ainda são poucos os alocadores de capitais que compreendem de fato o momento da economia global. A nova economia nascente é 3D — Despoluída, Descentralizada e Digitalizada.” Ele reforça que “não é uma onda woke (tipo o ESG é moda); não é coisa de ONG”, pois “a história ensina que mudanças radicais não passam sem causar mortes, perdas e transformações profundas”. E alerta: “Quem investiu em ferrovias na Revolução Industrial tornou-se Vanderbilt, Rockefeller, Gould, Morgans — e você, onde quer estar na história da transição para uma economia realmente sustentável?” 

De acordo com Figueiredo, essa visão mais ampla deve orientar a atuação do mercado: “A COP-30 precisa avançar nos incentivos econômicos para que possamos agregar maior valor aos capitais investidos em pagamentos de serviços ambientais, energias renováveis e processos industriais de baixo impacto.” Assim, a transição será mais rápida, eficiente e compatível com a nova era. 

No que diz respeito ao papel do Brasil, ele destaca a necessidade de regulamentar leis essenciais para viabilizar investimentos, como a Lei nº 14.119/2021 — que trata de incentivos tributários para pagamentos por serviços ambientais — e o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). “Se essas leis forem regulamentadas nos próximos 36 meses, terão um efeito maior que qualquer outra decisão da COP, ajudando o Brasil a se alinhar com os mecanismos do Art. 6º do Acordo de Paris e fortalecer sua participação no mercado internacional de créditos de carbono. Não é só um caminho a ser seguido pelo Brasil, mas que todas as nações signatárias do Acordo de Paris devem caminhar na mesma direção, pois assim organizamos os mercados e mitigamos riscos globais.” 

Figueiredo também alerta sobre os desafios na implementação de políticas globais: “No exterior, especialmente nos Estados Unidos e na China, a COP-30 precisa avançar na concordância de soluções que acelerem a mudança dos padrões produtivos da Era Industrial, complementados pela Europa.” Para ele, “não podemos focar apenas nas causas do problema, que são os impactos ambientais; precisamos atuar nas origens, nas amortizações de investimentos que ainda precisam ser feitos na transição.” 

Ao abordar as ações prioritárias, Figueiredo afirma que “aumentar a eficiência dos incentivos econômicos é fundamental para acelerar a transição energética, proteger ecossistemas e fortalecer a resiliência das comunidades vulneráveis. Os governos devem colocar luz sobre os problemas certos, negociando entre si a coordenação das regulamentações econômicas subnacionais e internacionais. Inclusive, a indústria de óleo e gás precisa mudar radicalmente seu modelo de negócio,” reforça, citando exemplos de liderança de empresas que já enxergam as oportunidades da nova economia: “Se a indústria não se adaptar, ficará para trás na construção de uma nova narrativa de crescimento sustentável. É só por meio de incentivos corretos que se alcança justiça climática e desenvolvimento econômico real, não por meio do comando e controle.” 

O papel do Brasil na liderança global e na governança climática 

Para Breno Figueiredo, o Brasil, como país anfitrião da COP-30, deve aproveitar essa oportunidade de liderar pelo exemplo. “Não podemos nos dar ao luxo de chegar atrasados na nova Economia Regenerativa. A reforma do Estado, a melhoria na eficiência dos serviços públicos e a aceleração de sua transição econômica são passos essenciais para consolidar esse papel de liderança.” 

Ele reforça que “o país tem vantagens únicas na emissão de títulos verdes, na recuperação de biomas, na industrialização sustentável e na inovação em produtos financeiros. Ainda é preciso garantir que o Brasil dite tendências, oferecendo soluções financeiras de impacto, e não apenas consumindo recursos e estratégias externas.” 

Figueiredo conclui destacando que “a governança climática deve evoluir para uma maior transparência, inovação e alinhamento de interesses entre os setores público e privado.” Ele ressalta que “a ANEFAC tem atuado nessa direção com prêmios e boas práticas que incentivam empresas que estão na linha de frente da transição para a economia regenerativa.” 

Ele finaliza com uma mensagem de visão de futuro: “Se conseguimos criar incentivos adequados e uma governança que estimule a inovação, o Brasil pode se consolidar como um elemento fundamental na mudança de paradigmas globais, construindo uma economia mais verde, socialmente justa e sustentável para as próximas décadas.” 

Breno Figueiredo, economista, sócio e diretor de Pesquisa Econômica e Finanças Sustentáveis da Ambipar Asset Management

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