Aprendemos a extrair riquezas do que era considerado impossível: solos fracos tropicais. Superamos a parábola do semeador: “não plante em terras fracas”. Aprendemos com a coragem e visão de alguns brasileiros a criar solos, a adaptar tecnologias do mundo inteiro para os seis biomas do país e suas dezenas de microbiomas. Contamos com pioneiras e pioneiros desbravadores da imensidão do território nacional, onde cada m2 é útil.
Foram produtoras e produtores rurais enfrentando situações inóspitas, empreendedores criando empresas a partir de uma porta de garagem, como bem exemplifica Shunji Nishimura, em 1948, na cidade de Pompeia (SP), na Jacto, e outros construindo agroindústrias e agregando valor nas matérias primas.
Pesquisadoras e pesquisadores nos institutos estaduais, na Embrapa, nas universidades, educadores desbravaram o Brasil criando uma economia a partir da construção de cadeias produtivas. Cooperativas surgiram se transformando hoje em mais de 50% de toda produção agropecuária nacional.
Ney Bittencourt de Araújo, à época presidente da Agroceres, que foi fundada por um ex-diretor da universidade de Viçosa (MG), em 1945, Dr. Antônio Secundino de São José, em 1993 fundava a Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG), cuja mensuração desse sistema configurava à época cerca de 1/3 do PIB do país.
De lá para cá, o que conduziu o crescimento brasileiro foi esse ponto de apoio, as matérias primas plantadas, criadas e multiplicadas nos solos, águas e mares tropicais do país. No nosso livro recém lançado, enaltecemos esse valor brasileiro: “Agroconsciente, a revolução criativa tropical”.
Chegamos aqui, mas estacionamos aqui. Nos últimos 15 anos a agropecuária tem crescido, mas a indústria, comércio e serviços não tem crescido. Quer dizer, o sistema inteiro do antes, dentro e pós-porteira das fazendas carece de um planejamento estratégico de estado para darmos um novo salto. Agora nas mensurações do Cepea/Esalq/USP, o PIB do agronegócio brasileiro representa 25% do PIB do país. Falamos então em algo em torno de US$ 500 bilhões para um PIB total brasileiro de cerca de US$ 2 trilhões.
Quando olhamos os potenciais existentes em demandas mundiais de alimentos, energia, essências, e agora na nova bioeconomia, com ciência, tecnologias, produção sustentável, agroindustrialização, comércio e serviços, e passamos numa rápida análise desde o “a” do abacate até o “z” do zebu, percebemos que o mundo potencial é gigantescamente maior do que a realidade vivida hoje pelo Brasil, e que temos a oportunidade legítima de dobrar o PIB nacional de tamanho a partir de um planejamento de pelo menos 20 cadeias produtivas de alimentos, energia e ambientais, gerando não apenas agregação de valor no cacau, macaúba, palma, seringueiras, açaí, soja, algodão, milho, mandioca, batatas, feijão, arroz, trigo, cana de açúcar, café, celulose, proteína animal, fumo, citros, frutas, proteínas animais, hortaliças e até na jabuticaba, mas servindo o mundo com conhecimento e cooperação internacional para todo cinturão tropical do planeta terra.
Temos oportunidades de criação de indústrias, comércio e serviços em todo conglomerado do antes das porteiras, em insumos, mecanização, digitalização, robotização, nanotecnologias e satélites, bem como na logística conectando o Atlântico ao Pacífico numa verdadeira rota dos trópicos sobre as cordilheiras, e no pós-porteira das fazendas com marcas e produtos que estejam vistos e desejados nas gôndolas dos supermercados do mundo.
Podemos e devemos almejar US$ 1 trilhão no complexo do sistema agroindustrial em 10 anos. Podemos almejar o dobro disso se incorporarmos as oportunidades ambientais, carbono, metano, biogás, transição energética, cidades ecológicas com agricultura local e vertical. E principalmente se ouvirmos sábios como Roberto Rodrigues, ex-ministro e professor emérito da FGV, quando afirma que o “agro é paz”, significando alimento para todos e, além disso, visualizarmos uma Amazônia brasileira como uma gigantesca usina saudável de saúde ambiental energética e alimentar de todo planeta terra. Quanto vale uma Amazônia trazida a valor presente se realizarmos ali um legítimo agroconsciente? Sem dúvida, vale mais do que todo PIB brasileiro atual.
Podemos fazer isso? Sim. Resgatando o gênio da administração Peter Drucker que dizia: “não existe país subdesenvolvido, existe país subadministrado”.
Para quem tem um ativo como todo real e potencial complexo sistêmico do agribusiness, agora um agroconsciente, não dobrar o PIB brasileiro de tamanho em 10 anos seria sinônimo de uma desgovernança.
Temos brasileiros capazes, cultos e preparados para chegarmos em 2034 com um crescimento econômico e social digno do tamanho do país. E com as cooperativas representando a superação dos pequenos reunidos para a dignidade humana da vida. Um ótimo estímulo para toda nossa ANEFAC.
Artigo escrito por José Luiz Tejon, Head de Inteligência Agro da ANEFAC, doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai, mestre em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, jornalista e publicitário, com especializações em Harvard, MIT e PACE/USA e Insead na França. Colunista da Rádio Eldorado e Estadão On-line, autor e coautor de 35 livros. Coordenador acadêmico de Master Science Food & Agribusiness Management pela Audencia em Nantes/França e FECAP/Brasil. Sócio Diretor da Biomarketing e da TCA International. Prêmio Personalidade Agro ABAG 2023. Ex-diretor do Grupo Estadão, da Agroceres e da Jacto S/A.