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Riscos e resiliência organizacional frente à transformação global 

É fato que as empresas precisam construir resiliência para enfrentar crises econômicas, políticas e ambientais. A elaboração de planos de contingência e a adoção de uma abordagem proativa na gestão de riscos são fundamentais nos tempos atuais; as empresas não podem ser negligentes nesse sentido.   

Além disso, é essencial adaptar a governança corporativa a cenários imprevisíveis, garantindo que a organização esteja preparada para imprevistos. Outro ponto importante é que a gestão de riscos deve estar integrada à cultura organizacional e à tomada de decisões estratégicas, promovendo uma mentalidade que valorize a antecipação e a adaptação.   

Por isso, a ANEFAC escolheu esse tema para ser discutido em um painel no Congresso ANEFAC 2025.  Pedro Lucio Siqueira Farah, conselheiro da associação, acredita que o gerenciamento de riscos deve estar sempre presente desde o planejamento estratégico até a operação do dia a dia. Segundo ele, ferramentas tradicionais como análise de risco, planos de contingência e auditorias internas precisam ser continuamente atualizadas e integradas às estratégias de negócios, sobretudo em um ambiente de alta imprevisibilidade.   

Ele destaca ainda que uma gestão de riscos eficaz não se limita a evitar perdas, mas também a explorar oportunidades. “Em momentos de crise, quem consegue gerenciar melhor suas vulnerabilidades e se adaptar rapidamente ganha vantagem competitiva. Empresas que investem em inovação, diversificação de mercado e tecnologia estão mais preparadas para sobreviver às turbulências”.   

Enquanto, Rodrigo Olyntho, sócio de Risk Management da EY, ao citar a gestão integrada, usa a metáfora do freio e acelerador de um carro de Fórmula 1: uma gestão bem estruturada funciona como um sistema de freios que permite às empresas “acelerarem sem perder o controle”. “O conceito de riscos deve estar presente em todas as etapas do planejamento, desde a definição de metas até o monitoramento de indicadores de desempenho. Eventos como a pandemia e as crises climáticas mostraram a importância de protocolos de continuidade bem treinados, testados e atualizados regularmente”.   

Além disso, Olyntho chama atenção para os “cisnes negros”, eventos imprevisíveis de grande impacto, e os “rinocerontes cinza”, riscos que já se conhece, mas muitas vezes são negligenciados. Como exemplo, ele ressalta a crise de abastecimento causada por conflitos internacionais e variações cambiais, que muitas vezes pegam as empresas de surpresa por falta de preparação adequada. “A tecnologia, como a inteligência artificial e a análise preditiva, tem papel fundamental na identificação antecipada desses riscos e na elaboração de planos de resposta eficientes”.   

Já Lúcia Helena Domingos, sócia do escritório LDTP advogados, acredita na governança e ética, reforçando que a gestão de riscos não se limita ao ambiente financeiro ou operacional, mas também às questões reputacionais e éticas. “Em crises de fraude ou de crises de imagem, a agilidade na comunicação interna e externa é crucial para preservar a credibilidade da organização. Há exemplos de crises na indústria siderúrgica e na cadeia de alimentos, onde a falta de preparo ou invisibilidade dos riscos levou a consequências graves que poderiam ter sido mitigadas por planos claros e uma gestão ética rigorosa”.   

Ela também ressalta que a crescente preocupação com ataques cibernéticos, principalmente em tempos de aumento do uso de tecnologias e inteligência artificial, exige que as empresas invistam em segurança digital e treinamentos contínuos para suas equipes. Segundo dados da RSA Security, o número de ataques de ransomware aumentou em 300% nos últimos dois anos, evidenciando a necessidade de ações preventivas e de respostas rápidas.   

Em um mundo em transformação contínua, a capacidade de as organizações enfrentarem e se recuperarem de crises — ou seja, sua resiliência — será o fator decisivo para a sua longevidade e competitividade. Assim, investir em gestão de riscos de forma integrada e estratégica não é mais uma opção, mas uma necessidade para sobreviver e prosperar no cenário global atual.   

É consenso entre Farah, Olyntho e Domingos que a governança corporativa é fundamental para a resiliência das organizações, especialmente diante de crises imprevisíveis, como pandemias e desastres naturais. Eles citam as maneiras pelas quais ela pode contribuir para essa resiliência: 

1. Estruturas de gestão de riscos: A governança corporativa estabelece estruturas e políticas claras para lidar com riscos, permitindo que as organizações identifiquem, analisem e mitiguem potenciais crises antes que elas se concretizem. Isso envolve criar planos de contingência e protocolos de continuidade operacional que podem ser ativados rapidamente em situações adversas. 

2. Treinamento e preparação: A capacitação de recursos humanos é vital para assegurar que a equipe esteja preparada para lidar com desafios inesperados. Organizações que investem em treinamento e em uma cultura de preparação tendem a se adaptar mais rapidamente em tempos de crise. 

3. Diversificação: As empresas são incentivadas a diversificar seus produtos, serviços e mercados para reduzir a dependência de um único fluxo de receita. Isso as torna mais flexíveis e eficazes em resposta a mudanças nas condições econômicas e de mercado. 

4. Estratégia integrada: A gestão de riscos deve estar integrada ao planejamento estratégico da empresa. Isso significa que as decisões sobre a estratégia e a gestão de riscos são discutidas em conjunto, permitindo uma abordagem mais harmoniosa e eficaz diante das incertezas. 

5. Comitês de crise: Quando a crise ocorre, um comitê de crise bem estruturado pode coordenar a resposta, assegurando que as decisões sejam tomadas de forma organizada e dentro das diretrizes de governança. Isso ajuda a evitar decisões informais e potencialmente prejudiciais tomadas em momentos de pressão. 

A construção de resiliência tem relação direta com uma cultura organizacional forte e uma governança que valorize a transparência, o controle interno e o engajamento das lideranças. Além disso, a inovação tecnológica, aliada a políticas de ética e ao desenvolvimento de talentos, é vital para que as empresas possam se adaptar às mudanças de mercado, às ameaças de segurança e às transformações ambientais.   

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