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Quais são os impactos da economia global e da geopolítica nos negócios? 

A dinâmica da economia global está cada vez mais sendo influenciada por tensões geopolíticas, conflitos e mudanças nas políticas comerciais de grandes potências. Entre os fatores que moldam esse cenário estão a guerra entre Rússia e Ucrânia, suas repercussões nas cadeias de suprimentos e o fortalecimento ou contenção da expansão da OTAN, que aumentam a volatilidade e as incertezas no mercado internacional. Paralelamente, as políticas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos, sobretudo durante o governo de Donald Trump, têm provocado alterações nas relações comerciais e impactado a competitividade de países e empresas ao redor do mundo.  

No Brasil, os desafios internos incluem altos gastos fiscais, inflação persistente e taxas de juros elevadas, que restringem o crescimento econômico e a capacidade de investimentos. Entretanto, novas oportunidades surgem na área de finanças e na economia digital, onde a inovação tecnológica possibilita às empresas transformarem centros de custo em novas fontes de receita, fortalecendo seus ecossistemas e expandindo suas fronteiras de atuação.  

Esses temas mostram um universo complexo de desafios e possibilidades que exigem análises estratégicas e adaptação contínua diante de um cenário internacional em constante transformação. E esses foram tópicos discutidos em painel no Congresso ANEFAC 2025. Guilherme Dultra, head de finanças da ANEFAC, destacou a forte influência das decisões econômicas e políticas em nossas vidas cotidianas — desde os custos de combustível até as condições de financiamento de imóveis ou investimentos empresariais.  

Ressaltando a questão do risco na economia global, Andrew Storfer, conselheiro da ANEFAC, pontuou que hoje vivemos um nível de incerteza sem precedentes na história recente. Segundo ele, uma distinção importante é que risco pode ser mensurado e precificado, enquanto incerteza, por sua vez, é aquilo que não conseguimos prever ou calcular com precisão. Nesse contexto, ele analisou os conflitos entre Rússia e Ucrânia, enfatizando que o mundo está vivendo uma fase de transformação nas cadeias globais de suprimentos, que afetaram commodities, investimentos e fluxos comerciais.  Ele explica que a expansão da OTAN e a crescente deterioração das relações entre EUA e Rússia têm criado um ambiente de instabilidade, refletida na segurança energética e na dependência de recursos estratégicos, como terras raras na Groenlândia, um ponto de interesse geopolítico que pode influenciar o equilíbrio de poder na região. Da mesma forma, alertou sobre a mudança na matriz de comércio internacional, com a China assumindo papel de maior parceiro comercial e disparando uma reconfiguração na logística global. 

Embora o cenário internacional apresente desafios, o Brasil enfrenta dificuldades similares: altos gastos fiscais, uma inflação persistente, altas taxas de juros e uma débil recuperação econômica. Dultra ponderou que os altos gastos com a dívida pública, os déficits fiscais e a lenta evolução das reformas estruturais limitam o crescimento do país e dificultam o aumento de investimentos em infraestrutura, saúde e educação. 

A relação comercial entre Estados Unidos e Brasil, destacando a mudança no perfil do comércio externo brasileiro, que, até pouco tempo, tinha forte dependência dos EUA e, atualmente, está cada vez mais voltado para a China. Storfer analisa os efeitos do protecionismo e das tarifas, ressaltando que o aumento dos impostos de importação, principalmente sob o governo Trump, gerou incerteza na economia global, afetando cadeias de produção e elevando custos de insumos e produtos finais. Ele alerta ainda que a inflação, o aumento das taxas de juros nos EUA e as tensões geopolíticas elevam o risco de recessão mundial e provocam uma desaceleração no crescimento de diversos países, incluindo o Brasil. Apesar dos avanços em acordos comerciais e de uma política de abertura, o país ainda enfrenta obstáculos em sua infraestrutura e no aprimoramento de políticas de ambiente de negócios. 

As oportunidades que podem surgir desse cenário de incertezas globais. Storfer disse que o Brasil tem um potencial enorme na sua infraestrutura, recursos naturais e tamanho de mercado, que podem ser alavancados para fortalecer sua posição no cenário internacional, especialmente através de investimentos sustentáveis e inovação. A interconexão entre a economia brasileira e o contexto internacional, principalmente em cenários de tensão como a guerra na Ucrânia, evidencia a fragilidade do comércio global em relação a eventos geopolíticos. Com o Brasil enfrentando desafios internos, as repercussões dessa guerra e a postura dos EUA exigem atenção para que o país possa explorar oportunidades, especialmente no agronegócio e na infraestrutura. 

Perspectivas em economia digital  

Já Karen Ferreira, co-fundadora da KB Negócios, reforçou que o avanço tecnológico, a digitalização de serviços financeiros e o conceito de finanças embarcadas (embedded finance) representam uma grande oportunidade para empresas brasileiras modernizarem suas operações e, ao mesmo tempo, diversificarem suas fontes de receita. Segundo ela, o Brasil pode explorar ecossistemas específicos, pescando no “aquário” de seus nichos de mercado, para criar novas oportunidades de negócios — seja na emissão de cartões, antecipação de recebíveis ou produtos financeiros customizados, aproveitando o Open Finance e APIs. 

Ferreira argumentou que a economia digital e as finanças embarcadas apresentam oportunidades significativas para empresas brasileiras, particularmente na forma de monetização e maximização de receitas dentro do próprio ecossistema empresarial. Alguns dos pontos principais apontados por ela incluem: 

1. Finanças embarcadas: As empresas têm a oportunidade de se tornarem emissoras de cartões e oferecer serviços financeiros sem necessariamente depender de uma licença tradicional. Por exemplo, ao invés de apenas utilizar serviços financeiros como centros de custo, as empresas podem monetizar esses serviços e reter parte das receitas associadas a transações financeiras. 

2. Análise do ecossistema: É essencial que as empresas realizem uma análise detalhada de seus ecossistemas, identificando clientes, fornecedores e como as transações financeiras acontecem. Essa compreensão permite que as empresas explorem oportunidades de receita em áreas onde antes eram meramente centros de custo. 

3. Mudanças tecnológicas e regulamentares: Com as novas regulamentações e avanços tecnológicos, empresas podem implementar soluções que antes eram inviáveis, usando fintechs e outras plataformas para reduzir custos e aumentar a inclusão financeira. 

4. Setores diversos: As oportunidades estão presentes em todos os setores, seja varejo, comércio ou indústria. Com um foco adequado e a implementação de soluções digitais, essas empresas podem encontrar formas inovadoras de monetização. 

5. Monetização inteligente: O foco deve ser em “pescar no próprio aquário”, ou seja, extrair valor de seu ambiente imediato, utilizando uma abordagem pragmática para aumentar a receita. Isso pode incluir a análise de alternativas como fintechs, white label e soluções de reserva. 

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