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A nova era da contabilidade: Do compliance à estratégia  

A evolução do cenário econômico e tecnológico tem impulsionado uma verdadeira transformação na profissão contábil, que agora enfrenta uma nova era marcada pela digitalização, sustentabilidade e mudanças regulatórias profundas, como a reforma tributária. Nesse contexto, os profissionais de contabilidade precisam não apenas se adaptar às novas normas e ferramentas tecnológicas, mas também fortalecer o aspecto humano de seu relacionamento com os clientes. O tema foi abordado em painel no Congresso ANEFAC 2025, trazendo essas tendências e desafios, destacando que, embora a reforma tributária apresente obstáculos, ela também oferece oportunidades para ampliar a transparência, facilitar a tomada de decisão e aprimorar a gestão fiscal. 

Na visão de João Carlos Castilho Garcia, presidente do CRC-SP, a essência da contabilidade — coletar e fornecer informações para a tomada de decisão — permanece, porém os métodos mudaram radicalmente. A automação e a inteligência artificial revolucionaram os processos, tornando-os mais rápidos, precisos e capazes de gerar dados em tempo real. Essa evolução, segundo ele, amplia o escopo e as funções do profissional, que agora deve atuar também na emissão de relatórios de sustentabilidade, no protagonismo de normas internacionais e na garantia de que a informação reflita a realidade de forma transparente. 

A questão não é apenas fazer o que sempre fez, mas fazer de forma diferente, mais inteligente e integrado. Um exemplo disso é o uso de dashboards, análise preditiva e modelagem de cenários, que auxiliam gestores a entenderem os impactos de diferentes decisões, facilitando estratégias mais assertivas e alinhadas ao mercado global. 

Por outro lado, Antonio Carlos Souza dos Santos, presidente do SESCON-SP, reforça que a tecnologia é uma ferramenta essencial para esse avanço. A automação, o uso de Business Intelligence e o tratamento de big data permitem que os negócios tenham uma visão mais clara e atualizada de suas operações, riscos e oportunidades. Ele pontua que a adoção de plataformas inteligentes também ajuda na gestão de riscos fiscais, financeiros, ambientais e sociais — um requisito cada vez mais imprescindível. 

Segundo ele, os profissionais de contabilidade representam hoje o “petróleo do futuro”, pois dominam dados estratégicos que, bem analisados, podem gerar vantagem competitiva, seja na escolha do local de instalação, na gestão de cadeias de suprimentos ou na adaptação às mudanças regulatórias, como a reforma tributária em tramitação no Brasil. Tecnologia de análise de cenários fiscais, mapas de calor e dashboards conectados ao banco de dados da empresa tornam os processos mais eficientes e permitem que o contador vá muito além do simples cumprimento de obrigações. 

Para Garcia, apesar do avanço tecnológico, o fator humano ainda é fundamental. “A formação de profissionais com soft skills, capacidade de escuta ativa, empatia e liderança humanizada será decisiva para o sucesso na nova era da contabilidade. A resposta às mudanças exige uma postura mais integrada, com foco na prestação de um serviço consultivo, que vá além do aspecto técnico.” 

ESG, sustentabilidade e cadeia de suprimentos: uma responsabilidade ampliada 

Um tema marcante atualmente é a incorporação dos princípios ESG (ambiental, social e de governança) na rotina das empresas, que a cada dia ganha mais relevância na avaliação de riscos e oportunidades. Marta Pelucio, conselheira da ANEFAC, cita exemplos como a Suzano, que trabalha com sua cadeia de fornecedores de forma proativa, promovendo o compliance e a sustentabilidade. “A estratégia de humanização na cadeia de suprimentos, é uma tendência importante porque amplia a responsabilidade das organizações além do seu escopo imediato, promovendo uma relação mais ética e transparente com fornecedores, parceiros e até com o meio ambiente.” 

Essa abordagem de cadeia de valor reforça a ideia de que sustentabilidade não é mais uma opção ou uma narrativa de marketing, mas uma estratégia de gestão de riscos, reputação e continuidade do negócio. Como aponta Pelucio, uma grande companhia que adota práticas responsáveis na cadeia reforça sua credibilidade, evita riscos reputacionais e cria uma vantagem competitiva sustentável. 

A nova era da contabilidade não é apenas uma questão de atualização técnica ou digitalização, mas uma mudança de paradigma que envolve inovação, responsabilidade social, sustentabilidade e governança. Como reforçaram os contadores, os profissionais de contabilidade têm uma oportunidade única de atuar na liderança de transformação nos seus negócios e na sociedade, ajudando empresas a navegar com segurança por esse cenário de profundas mudanças. 

A integridade das informações, a adoção de novas tecnologias e uma postura humanizada e estratégica serão os diferenciais para que essa transformação seja bem-sucedida. Afinal, como destaca Pelucio, a contabilidade do futuro não é mais só um suporte operacional, mas uma verdadeira parceira na criação de valor, sustentabilidade e resiliência, garantindo o crescimento responsável das organizações em tempos de rápidas mudanças globais. 

Reforma tributária e o futuro da contabilidade no Brasil 

A reforma tributária promete uma mudança profunda no sistema de impostos brasileiro, trazendo maior transparência e simplificação. Santos acredita que, apesar das incertezas sobre o formato final da reforma, ela deve colocar a contabilidade na posição central de gestão fiscal e tributária. “Com a unificação de tributos e o uso de tecnologia, as empresas terão acesso a dados mais precisos e integrados, que facilitarão decisões estratégicas alinhadas à nova lógica de tributação por eficiência e valor agregado.” 

Ele adianta que, embora o processo de transição seja complexo e exija esforços de ajuste, a nova estrutura permitirá às empresas utilizarem os dados fiscais de forma mais inteligente, promovendo inovação, produtividade e competitividade no cenário nacional e internacional. Assim, a contabilidade deixará de ser apenas uma obrigação fiscal para se tornar uma ferramenta estratégica de gestão, contribuindo para o crescimento sustentável do país. 

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