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Mais do que uma reforma do consumo, uma revolução nos negócios: como as empresas devem se preparar para os impactos estruturais da reforma tributária 

Muito se tem dito sobre a Reforma Tributária como uma mudança na tributação sobre o consumo. No entanto, reduzir seu impacto a uma simples substituição de tributos é não compreender a dimensão dessa transformação. O que está em curso no Brasil é uma reconfiguração profunda do ambiente de negócios — com efeitos diretos sobre estruturas jurídicas, operacionais, tecnológicas e estratégicas das empresas. 

A transição para um modelo de imposto sobre valor agregado (IVA dual), que substituirá tributos como PIS, Cofins, ICMS e ISS, exigirá mais do que ajustes no departamento fiscal. Será necessário revisar estratégias de precificação, redesenhar cadeias de fornecimento, renegociar contratos, adaptar sistemas de gestão e revisar estruturas societárias. 

Essa não é apenas uma reforma do consumo — é, sobretudo, uma reforma dos negócios. E ela exige respostas concretas, desde já. Empresas precisarão se fazer perguntas fundamentais: 

  • Qual será o impacto do novo regime sobre a margem dos meus produtos e serviços? 
  • A cadeia de suprimentos continuará eficiente e vantajosa? 
  • Será preciso revisar contratos com fornecedores e clientes? 
  • A estrutura societária atual segue adequada diante das novas regras? 
  • A companhia está tecnologicamente preparada para um novo modelo de compliance tributário digital? 

Ignorar essas questões pode comprometer a competitividade no médio e longo prazo. A reforma 

demanda  uma  abordagem  multidisciplinar,  que  envolva  análise  de  impacto  tributário, 

mapeamento de riscos, identificação de oportunidades de reorganização societária, revisão contratual e preparação tecnológica. 

Além disso, a adoção de ferramentas digitais de automação fiscal, a capacitação de equipes internas e a construção de um “mapa de calor” com as áreas mais impactadas — como logística, comercial, tecnologia da informação e jurídico — são medidas fundamentais para orientar a tomada de decisões. 

Importante lembrar que, apesar da transição ser escalonada, seus efeitos já começam a ser sentidos. A pesquisa “Tax do Amanhã 2024”, da Deloitte, mostra que a principal preocupação das empresas não é com o modelo em si, mas com o aumento da carga tributária durante a implementação e com os custos operacionais de adaptação. 

É preciso rever processos, simplificar estruturas, ganhar eficiência e adotar novos modelos de governança. As empresas que se anteciparem e se prepararem com visão estratégica estarão não apenas mais protegidas — mas posicionadas para crescer em um novo cenário tributário, que deve se tornar mais transparente e digital. 

Artigo escrito por Ronaldo Corrêa Martins, advogado, CEO e sócio fundador do Escritório Ronaldo Martins & Advogados e head jurídico da ANEFAC 

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