Ao longo da minha trajetória, tenho observado que, em um mercado corporativo cada vez mais complexo, veloz e interconectado, a confiança se tornou o maior ativo de uma organização. Empresas podem investir em tecnologia, expandir operações e conquistar market share, mas, se não transmitirem confiabilidade a seus stakeholders, dificilmente conseguirão sustentar o crescimento no longo prazo. E é aqui que dois conceitos se revelam decisivos: governança corporativa e transparência.
Sempre defendi que governança corporativa não deve ser vista como mera formalidade ou como obrigação regulatória. Trata-se de uma estrutura que organiza os relacionamentos entre acionistas, conselhos, executivos e demais partes interessadas, estabelecendo de forma clara responsabilidades, direitos e deveres.
É um conjunto de práticas que confere previsibilidade às decisões e minimiza riscos de conflito de interesses ou de assimetria de informações. Ao definir processos sólidos de gestão, avaliação e controle, a governança fortalece a capacidade das empresas de se manterem consistentes diante das pressões externas, sejam elas econômicas, regulatórias ou sociais.
Se a governança é o sistema, a transparência é o combustível que a mantém viva. Sem abertura e clareza, a governança corre o risco de parecer apenas um discurso. Transparência significa comunicar informações relevantes, precisas e tempestivas, de ordem financeira, operacional, estratégica ou até mesmo relacionadas a falhas e controvérsias. Uma empresa que assume erros, explica as medidas corretivas e se posiciona de forma clara conquista respeito. Já a opacidade ou a omissão podem corroer rapidamente a confiança.
Os dados de mercado confirmam esse raciocínio. No estudo “Governança Corporativa no Brasil: uma evolução constante” da KPMG, é apontado que 91% das empresas pesquisadas adotam uma política formal de gerenciamento de riscos, e 82% mantêm uma área específica para essa função. Esse movimento demonstra que a governança está dia após dia mais integrada à estratégia das companhias.
No entanto, os desafios permanecem. Ainda há uma distância considerável entre grandes corporações e empresas de menor porte, sobretudo em setores mais tradicionais ou familiares, que muitas vezes veem a governança como burocracia desnecessária.
Soma-se a isso a tensão entre ser transparente e, ao mesmo tempo, proteger segredos estratégicos, algo que exige discernimento e políticas bem calibradas. Também considero fundamental reforçar a independência das auditorias e a qualidade da fiscalização, pois a simples publicação de relatórios, sem validação robusta, não basta para gerar credibilidade.
Nesse contexto, acredito que o papel do líder estratégico é determinante. Cabe a nós cultivar uma cultura que valorize a governança e a transparência não como obrigação, mas como diferencial competitivo. É responsabilidade da liderança fomentar conselhos mais diversos e preparados, adotar métricas de desempenho que vão além das financeiras, incluir variáveis de sustentabilidade e compliance, e estabelecer canais de comunicação claros com todos os stakeholders. Mais do que implementar regras, trata-se de engajar pessoas em torno de uma visão de futuro onde confiança e ética são valores inegociáveis.
Tenho convicção de que a construção da confiabilidade é um processo contínuo, que exige disciplina e resiliência. Governança corporativa e transparência não são objetivos a serem alcançados de uma vez por todas, mas fundamentos que precisam ser reforçados diariamente. Quando incorporados à cultura organizacional, esses princípios permitem que as empresas atravessem ciclos de crise e prosperidade de forma mais estável, reduzam riscos regulatórios, atraiam investimentos de qualidade e mantenham uma relação de confiança genuína com todas as partes interessadas.
Ao olhar para o futuro do mercado corporativo, vejo que os negócios que compreenderem a centralidade desses alicerces estarão mais preparados para enfrentar um cenário de mudanças regulatórias, transformações tecnológicas e expectativas sociais mais elevadas. Aquelas que internalizarem a transparência como parte de sua identidade e a governança como sistema de sustentação terão mais legitimidade para liderar. Afinal, a confiabilidade não se constrói em um único anúncio ou relatório, mas na soma de decisões coerentes, abertas e responsáveis ao longo do tempo.
Artigo Marcelo Araújo, que é diretor comercial da eBox Digital, empresa especializada em gestão e proteção de documentos físicos e digitais
