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Papel da contabilidade deve ser de geradora das informações ESG

Muitas são as tendências na área contábil, mas com certeza as questões ambientais, sociais e de governança estão no topo de todas elas

Com os fatores ESG (Environmental, Social and Governance) mais latentes e difundidos no mundo corporativo e a criação do International Sustainability Standards Board, pela Fundação IFRS, para a emissão de padrões de sustentabilidade, daqui para a frente, o tema estará cada vez mais na pauta da área contábil em todo o mundo. Na visão de Marta Pelucio, presidente nacional da ANEFAC, em nível global, a principal tendência é a participação da contabilidade como fonte geradora de informações de ESG. “A contabilidade exerce um papel fundamental nesse processo provendo informações transparentes ao ciclo para a tomada de decisões de todos os stakeholders”, pontua.

Neste contexto, a contabilidade tem papel importante na conexão entre os dados financeiros e os não financeiros da companhia, combinando os quantitativos e qualitativos, bem como demonstrando a geração de valor ao longo do tempo (curto, médio e longo prazo). “O tema deixou de ser um diferencial e passou a ser prioridade para aquelas que tem o compromisso verdadeiro de demonstrar transparência aos seus stakeholders”, explica Fabiana Magrini, controller da Whirlpool.

Não podemos esquecer que o desenvolvimento sustentável é um ciclo que envolve a atuação socialmente responsável das empresas, bem como a medição dessas ações para que se possa controlar, pois somente se controla o que se mede. A governança corporativa é fundamental para garantir tanto a efetividade quanto as devidas mensurações. “Essa visão integrada das questões ambientais, sociais e de governança é fundamental para que tenhamos um desenvolvimento sustentável. Mas, em uma visão mais ampla, precisamos garantir que toda a sociedade tenha acesso às informações das entidades em suas ações”, avalia Pelucio.

Além das questões ESG, outra tendência no universo contábil, ainda em nível global, é a de sempre procurar melhorar a geração de informações de forma mais transparentes e, um fator que vem incomodando o Glenif (Grupo Latino-americano de Emissores de Normas de Informações Financeiras), é a inflação e seus impactos nas demonstrações financeiras. 

Segundo o Glenif, é preciso repensar a contabilidade com relação aos efeitos inflacionários. Vale lembra que essa bandeira também é defendida há muito tempo no Brasil, principalmente pelos professores da FEA-USP, Ariovaldo dos Santos e Eliseu Martins. Com a subida da inflação, inclusive na Europa, talvez esse tema, até hoje não muito relevado pelo IASB (International Accounting Standards Board), entre em sua pauta como algo relevante.

Agora, olhando mais especificamente para as tendências na contabilidade no Brasil, existem as mudanças normativas para as empresas de pequeno porte. Foram criadas duas novas normas (NBC TG 1001 e 1002), uma para micro entidades e outra para pequenas empresas que devem ser adotadas a partir de 2023 e que, portanto, tem que estar fortemente na pauta desse ano para que, principalmente, os escritórios de contabilidade estejam devidamente preparados para atender às novas exigências.

Já para Magrini, dois temas, que já vinham em andamento, devem continuar na pauta da área contábil: a transformação digital e o business partnership. A primeira está muito conectada com a agilidade em finanças utilizando ferramentas de automação que minimizem e/ou evitem rotinas manuais (e consequentemente erros) bem como a utilização de data engineering, onde a extração e manuseio de dados é feita de forma inteligente e acurada. Enquanto, a segunda está alinhada com a contabilidade trazendo mais valor agregado e uma conexão mais forte entre as necessidades do business e compliance, onde haja a garantia de equilíbrio entre o atendimento aos requerimentos mínimos obrigatórios contábeis sem prejuízo aos interesses do negócio.

Cenário econômico instável exigirá mais inteligência da contabilidade

Com o cenário mundial ainda muito instável, pois não terminou a crise sanitária de Covid-19 e já entrou as incertezas geradas pela guerra da Rússia com a Ucrânia, afetando diferentes setores de distintas maneiras. O setor de agronegócios brasileiro é um bom exemplo, ele vinha tendo um bom desempenho, mas a chegada do conflito bélico mudou completamente o cenário.

É importante pensar que as empresas estão suscetíveis às influências econômicas que podem ser originadas pelo ambiente interno ou externo do país, ou ambos, como acontece exatamente neste momento no Brasil. Na visão de Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners, podem afetar as empresas situações de várias naturezas, porém as principais são: monetária (crédito, inflação e juros), cambial (valorização ou desvalorização), oferta (restrições ou excesso de produção) e demanda (redução ou alta da procura por bens e serviços). Sem esquecer que se soma a estas, o ambiente político e legal, pois no país é recorrente ocorrerem alterações das regras como tributária, fiscal etc.

Diante das incertezas, a contabilidade tem um papel bastante importante, que é o de gerar informações cada vez mais rápidas e confiáveis. “Os contadores devem prover informações relevantes de diversos cenários que possam ser utilizadas na tomada de decisão. Os gestores precisam enxergar o resultado financeiro antes de qualquer atitude. Por isso, as empresas de contabilidade devem oferecer serviços mais “gerenciais” aos seus clientes”, diz Pelucio.

Assim, a captura efetiva e tempestiva dos eventos relevantes da companhia deve ser transmitida adequadamente, havendo transparência nos números, mas ao mesmo tempo que isso é uma oportunidade às empresas é também um desafio. “É importante a contabilidade ter controles efetivos que tenham um bom alcance em todas as áreas e que tragam as informações de forma completa”, relata Magrini. Já para as companhias de capital aberto, é preciso incluir ainda um desafio adicional que é estar up to date com as principais alterações e/ou novos requerimentos para que isso seja refletido corretamente nas demonstrações financeiras. “Com um mercado mais dinâmico e exigente, o profissional da contabilidade tem a oportunidade de se mostrar versátil e demonstrar habilidades múltiplas na sua função”, complementa.

Inteligência de dados faz da contabilidade uma protagonista

A questão de inteligência de dados, de acordo com Magrini, deve ficar dentro das top priorities de finanças para as empresas que querem ser pioneiras e que prezam por uma contabilidade mais protagonista, que atue em parceria junto ao negócio e esteja constantemente agregando valor em seus processos para colaborar ativamente nas tomadas de decisão da administração.

A rapidez e qualidade das informações que são exigidas hoje da contabilidade pelo mercado, somente podem ser alcançadas com o uso de tecnologia. Quando se tem uma grande quantidade de dados para trabalhar, é preciso buscar soluções de extração e processamento desses para garantir a geração de informações confiáveis.

“Tarefas repetitivas em grande escala, se feitas manualmente, podem apresentar muitas falhas e ainda demorar muito tempo para serem executadas. Elas devem ser automatizadas para garantir a qualidade, sendo que a tempestividade é uma das características qualitativas para que uma informação seja útil. Precisamos usar a tecnologia a nosso favor”, finaliza Pelucio.

Fabiana Magrini, controller da Whirlpool
Marta Pelucio, presidente nacional da ANEFAC
Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners