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Transição da economia linear à circular deve ocorrer em um futuro breve

Principal ponto a ser analisado neste processo é o por que mudar

De acordo com o novo Plano de Ação da União Européia para a Economia Circular, existe apenas um planeta Terra, mas, em 2050, o mundo consumirá como se existissem três. O consumo mundial de matérias-primas, como a biomassa, os combustíveis fósseis, os metais e os minerais, deverá duplicar nos próximos quarenta anos, aumentando a produção anual de resíduos em 70% até 2050.

A população, que era de 5,7 bilhões de habitantes em 1995, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), deve passar dos atuais 7,9 bilhões de pessoas para 9,6 bilhões em 2050, ou seja, mais 1 bilhão de habitantes só nos próximos doze anos – uma pressão considerável por mais consumo de recursos.

Com o aumento da população e consequentemente do consumo, as previsões do mercado apontam para quantidades acima de 170 Gt para os próximos trinta anos, o que, em relação à década de 1970, representará um crescimento de seis vezes acima da quantidade de recursos extraídos. Entretanto, os recursos naturais, ainda que renováveis, não conseguem se recompor nessa mesma velocidade.

Se olharmos para o modelo econômico e social em que vivemos atualmente, poderemos identificar que permanecemos em um modelo nomeado como “Economia Linear”.

O desenvolvimento do conceito de uma “Economia Circular” chega como uma das respostas às reflexões sobre o mundo contemporâneo, valores de sociedade, engrenagens econômicas e padrões de comportamento e seus impactos sobre o planeta. Pressupõe a ruptura do modelo econômico linear, atualmente aplicado pela maioria das empresas, para a implantação de uma estratégia na qual todos os tipos de materiais são extraídos e elaborados para circular de forma eficiente e, sem perda da qualidade, serem recolocados na produção.

A Economia Circular é, assim, uma estratégia sustentável, regenerativa e restaurativa, cujo propósito é manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor. Nesse sentido, se destaca como uma possibilidade de transformação de bens, que estão no final de sua vida útil, em recursos para outros processos produtivos, fechando ciclos em sistemas industriais e minimizando resíduos.

                            ECONOMIA CIRCULAR

Como princípios da economia circular podemos destacar: a concepção de produtos (Design); os serviços e modelos de negócios que excluam a produção de resíduos e de poluição (por exemplo, materiais tóxicos); a manutenção dos materiais e produtos em utilização pelo máximo tempo possível, aumentando assim significativamente o Ciclo de Vida Útil; a regeneração dos materiais utilizados e do meio ambiente.

Há de se destacar também que, no cenário econômico mundial, regiões como União Europeia, Estados Unidos da América e China, que representam juntos mais da metade do PIB mundial, vêm desenvolvendo planos de ações e incentivos financeiros para a mudança do modelo de economia linear para o modelo circular,  onde é de se esperar que haja, em pouco tempo, impactos significativos na economia mundial, criando-se assim novas exigências para importações de produtos e matérias primas que não atendam os requisitos de modelos circulares. No entanto surgirão novas oportunidades de negócios.

Podemos relacionar alguns benefícios, desafios e oportunidades que a Economia Circular traz, tanto para o cenário econômico como para o social, destacando primeiro alguns benefícios , por exemplo:

crescimento econômico, obtido por meio da combinação de aumento da receita em função da entrada de novas atividades; 

– redução dos custos de produção em função da utilização mais produtiva dos insumos;

aumento da disponibilidade de matéria prima (na União Europeia, estima-se que 60% do total de rejeitos poderia retornar ao sistema ao passar por processos de reciclagem, compostagem ou reuso);

promoção da inovação, pois uma economia mais inovadora inclui altos índices de desenvolvimento tecnológico;

materiais de melhor qualidade;

uso eficiente de mão de obra e energia;

oportunidades de lucro para as empresas e criação de empregos.

Estes são alguns dos resultados esperados do crescimento das atividades envolvidas na transição do modelo linear para o circular.

Como desafios podemos destacar: falta  de marco regulatório que demande ao mercado a adoção de modelos circulares de gestão; carência de fontes de financiamento atrativas e específicas para a Economia Circular; ausência de incentivos fiscais para a transição entre Linear e Circular; comportamento dos consumidores que ainda estão envolvidos no modelo linear com foco coletivo no descarte; e falta de inclusão e orientação escolar para a aprendizagem dos princípios circulares.

No que tange as oportunidades, podemos salientar, como uma das principais, a redução dos índices de poluição e impactos negativos ao meio ambiente. No entanto, na visão de um novo modelo econômico, poderíamos pontuar que, para o país (governo), haverá um incremento na economia gerando empregos e mais arrecadação, bem como um reconhecimento internacional de um país que prioriza o desenvolvimento sustentável.

No caso das empresas, haverá novas demandas para atuação e gestão do ciclo do produto, as quais trarão mais oportunidades de negócios e consequentemente ganhos e vantagens competitivas. Para consumidores, haverá mais ofertas de produtos com custo menor, acesso a produtos duráveis e com menor impacto ao meio ambiente , bem como oportunidade de ganhos através do compartilhamento de produtos ou mercado de segunda mão.

Podemos citar aqui cinco novos modelos de negócios no cenário da Economia Circular:

1 – Insumos circulares – tem como função fornecer material de entrada (inputs) renovável, com base biológica ou totalmente reciclável para substituir entradas de ciclo único:

Exemplo: Recursos escassos são substituídos por insumos de recursos totalmente renováveis, recicláveis ou biodegradáveis (biocombustíveis e energias renováveis), como na Indústria Química ou no Setor de Energia.

2 – Valorização de recursos – a principal atividade é a valorização de recursos úteis (em último caso pela transformação em energia) de produtos descartados ou subprodutos:

Exemplo: por meio de inovações e tecnologias, as organizações consideram as saídas (outputs) de materiais mecanismos para transformar e converter resíduos em novos produtos. Fazem parte desse modelo operações de reciclagem em circuito fechado, simbiose industrial e projetos cradle-to-cradle (do berço ao berço). A chave desse modelo está em trabalhar não só a eliminação do desperdício como em alterar inclusive o conceito de resíduo.

3 – Extensão da vida útil do produto – nesse modelo, o interesse está em aumentar o ciclo de vida útil de produtos e componentes por meio de ações de reparação, atualização, remanufatura e revenda para novas utilizações em mais de um ciclo:

Exemplo: quando a estratégia do modelo de negócio está direcionada para reuso, reparação ou recondicionamento, ou reciclagem de materiais, é preciso desenhar o fluxo reverso (Logística Reversa) para resíduos pós-consumo com ações de remanufatura que permitam mais de um ciclo produtivo.

4 – Plataformas de compartilhamento – essencialmente busca reduzir a ociosidade dos produtos pelo aumento da sua taxa de utilização, possibilitando o uso/acesso/propriedade compartilhada:

Exemplo: plataformas digitais como OLX, eBay, entre outras, visando a recirculação de bens e produtos (mercado de usados, trocas); plataforma Uber visando a redução da ociosidade pelo maior uso da capacidade total do bem durante a sua vida útil (o ideal é chegar a 100% de uso), uma vez que o veículo pode ser conduzido por diferentes motoristas reduzindo fortemente sua ociosidade.

5 – Produto como serviço – esse modelo trabalha com a servitização pela oferta de acesso à função do produto, sendo mantida a propriedade do bem para internalizar os benefícios da produtividade circular de recursos, como atualizações, reparações etc.:

Exemplo: consumidores/clientes/usuários usam os produtos por meio de um contrato de aluguel ou de pagamento por uso sem ser enquadrado pelas formas convencionais de transação de compras de produtos.

Cinco modelos de negócios e três tecnologias disruptivas

Fonte:  WBCSD, 2017.

Este artigo foi escrito por Victor Carvalho Marques, consultor de energias renováveis, Casildo Quintino dos Santos Neto, concierge empresarial, Lucinei Caroso Neiva, CEO da LCN Gabinete de Arquitetura e Urbanismo, e Murilo Furtado de Mendonça Junior, CEO do IMCATE (Instituto de Mediação, Conciliação e Arbitragem).

Bibliografia:

ONU. Nacoes Unidas Brasil. População mundial deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas em 2050, diz relatório da ONU. 2019. Disponível em: https://nacoesunidas.org/populacao-mundial-devechegar-a-97-bilhoes-de-pessoas-em-2050-diz-relatorio-da-onu/. Acesso em: 17 set. 2019.

EMF. ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Rumo à economia circular: o racional de negócio para acelerar a transição. Mann, 2015b. Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/

Victor Carvalho Marques, consultor de energias renováveis
Casildo Quintino dos Santos Neto, concierge empresarial
Lucinei Caroso Neiva, CEO da LCN Gabinete de Arquitetura e Urbanismo
Murilo Furtado de Mendonça Junior, CEO do IMCATE