À medida que o setor de tecnologia evolui, a discussão sobre a inclusão de mulheres acima de 40 e 50 anos ganha cada vez mais destaque. Atualmente, existem muitos desafios que essas mulheres enfrentam para se manter no mercado de trabalho. O importante é que as empresas tenham consciência das habilidades que elas trazem e da importância de promover a diversidade etária e de gênero no ambiente de trabalho.
Na visão de Priscilla de Amorim, executiva de TI, “mulheres com mais de 50 anos enfrentam uma série de desafios ao entrar no setor de tecnologia.” Segundo ela, o primeiro grande obstáculo é o preconceito etário, que “infelizmente ainda é comum.” Há uma percepção de que a tecnologia é um campo dominado por jovens, o que pode fazer com que mulheres mais velhas sejam vistas como “menos adaptáveis ou capazes de acompanhar as rápidas mudanças do setor.” Além disso, Amorim menciona que o preconceito de gênero também persiste, tornando o ambiente ainda mais desafiador. Um ponto crítico, segundo ela, é a necessidade de atualização constante: “Mulheres de 50+ podem sentir que precisam correr atrás do tempo perdido para se atualizar”, o que pode afetar a confiança e a autoestima, especialmente se estiverem mudando de carreira ou ingressando na tecnologia pela primeira vez.
Mineia Pellegrini, que atua como gerente de Sistemas na Leroy Merlin, complementa esta visão ao dizer que “mulheres, de modo geral, enfrentam uma série de desafios ao quererem ingressar na tecnologia.” Ela destaca que “o primeiro deles é o gênero. A tecnologia é um ambiente bastante masculino e jovem, o que gera uma dificuldade natural de adaptação, pois se trata de uma barreira cultural.” Pellegrini também aborda o preconceito etário, afirmando que “é muito comum associarmos a tecnologia e inovação à juventude.” Em sua própria experiência, ela ressalta que “mesmo sem o preconceito etário, vivi muitas dificuldades, boicotes e preconceitos” durante seus 25 anos na área.
A presença de mulheres 50+ pode ajudar a mudar essa narrativa. Amorim afirma que sua presença é “essencial para quebrar o estereótipo de que essa área é exclusiva para os jovens”, pois elas “trazem uma bagagem rica de experiências e perspectivas que podem enriquecer a tomada de decisões e a inovação nas empresas.”
Pellegrini concorda, ressaltando que “a presença de mulheres com mais de 50 anos no setor de tecnologia pode trazer uma grande experiência profissional, habilidades desenvolvidas na carreira e percepções divergentes.” Ela destaca que “ao ocuparem espaços em tecnologia, elas mostram que a inovação não está restrita à juventude, mas é alavancada também pela diversidade de experiências e idades.”
No entanto, Pellegrini reconhece que “infelizmente o mercado atual ainda traz a mentalidade de um ambiente para jovens, mas isso está mudando à medida que mais empresas reconhecem o valor da experiência e da diversidade.”
Habilidades que fazem a diferença
Sobre as habilidades valorizadas, Amorim acredita que profissionais de tecnologia com mais de 50 anos oferecem “um conjunto de habilidades únicas.” Ela menciona que, em primeiro lugar, elas possuem um vasto conhecimento de vida e de trabalho, que as ajuda a “abordar problemas de uma forma mais holística”. A capacidade de resolver problemas complexos com base em experiências passadas é um diferencial importante, e ela destaca que “as habilidades interpessoais, como comunicação e liderança, tendem a ser mais desenvolvidas em profissionais mais velhos.”
Pellegrini adiciona que as habilidades das mulheres mais experientes incluem “experiência, liderança, vivência, tomada de decisão estratégica e resiliência para resolver problemas complexos”. Em comparação, ela observa que “os jovens são mais imediatistas”, o que sugere que a combinação dessas diferentes abordagens pode ser altamente benéfica para as empresas. Assim, Pellegrini ressalta que um ponto muito positivo é que “a mulher gosta de transmitir conhecimentos e formar pessoas, fazer mentorias.”
O caminho para a diversidade
Ambas as especialistas reconhecem que a promoção da diversidade etária e de gênero nas empresas de tecnologia requer ações concretas e continuidade. Amorim observa que “o espaço para promover a diversidade está crescendo, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, e sublinha a importância de programas de mentoria e políticas de contratação inclusiva. “É preciso mais do que boas intenções”, afirma.
Pellegrini também aponta que “esse espaço [para diversidade] está sendo criado por algumas empresas, inclusive fazendo parte das metas oficiais, mas ainda temos um longo caminho a seguir.” Ela enfatiza que “há necessidade de evolução nas práticas de recrutamento, promoção e cultura organizacional para esse cenário ser modificado.” Para um ambiente mais inclusivo e diverso, Pellegrini sugere que “as empresas precisam investir em políticas de trabalho flexível, combate ao preconceito etário e desenvolvimento de carreira para mulheres 50+.”
As duas concluem que promover a diversidade etária e de gênero “vai além da equidade; é questão de inovação e competitividade, já que equipes diversas tendem a ser mais criativas e produtivas.”
Este diálogo não apenas destaca os desafios enfrentados por mulheres 50+ no setor de tecnologia, mas também sublinha a necessidade de uma mudança cultural significativa que valorize a experiência e a diversidade, criando um espaço mais inclusivo e inovador para todos.