
A Inteligência Artificial (“IA”) é resultado de um avanço extremamente relevante no que tange ao cenário tecnológico. Antigamente, esse tema era encarado com um viés futurístico e distante, em um ambiente de experimentos e testes, potencialmente restrito à linguagem de programação, no qual discutia-se a ideia de máquinas possivelmente simularem funções cognitivas humanas.
Atualmente, tem-se um cenário em que a IA saiu desse contexto empírico e se tornou um campo de estudo científico consolidado, com aplicabilidade nas mais diversas áreas de conhecimento, tornando-se, assim, um instrumento de transformação da sociedade. Para discutir essa temática, a ANEFAC realizou no Rio de Janeiro, em 28 de novembro, um evento intitulado “Futuro Inteligente: Impacto da Inteligência Artificial nas Empresas”, com Andrei Graça (EY), Fernando Carneiro (Petrobras), Luiz Frias (Eneva), Marcelo Baltar (Vale), e Frederico Escobar e Vera Elias, ambos da ANEFAC.
Segundo Vera Elias, presidente regional da ANEFAC no Rio de Janeiro, diante dessa conjuntura, é essencial que as empresas façam ajustes e adaptem-se a essa nova realidade, modificando suas atividades e processos, com vistas a usufruírem dos avanços promovidos pela Inteligência Artificial e a manterem-se competitivas no mercado. Com isso em mente, ela acredita que alguns dos maiores impactos do emprego da IA se encontram nas automatizações de processos. “Com isso, há uma redução de erros humanos, ao mesmo passo em que os funcionários passam a ter mais tempo para realizar atividades mais estratégicas e criativas.”
O maior impacto, na percepção de Marcelo Baltar, finance data & analytics manager da Vale, será percebido em função do principal negócio da empresa. Ele acredita que a Inteligência Artificial tem um espectro de aplicação tão amplo que as empresas irão capturar maior valor dela ao utilizarem-na naquilo que for mais estratégico em seu mercado. “Por exemplo, indústrias de mineração ou óleo e gás podem ter um aumento enorme de eficiência operacional com IA aplicada à gestão de seus ativos. Por outro lado, no varejo e bens de consumo, ter modelos atuando na gestão de estoque e na cadeia de suprimentos, além da segmentação de clientes, traz um grande retorno. Na biomedicina, a pesquisa e criação de novos medicamentos está sendo alavancada enormemente pela inteligência artificial. O recado é que, independentemente do negócio ou setor, ter a IA como uma ferramenta na execução da estratégia começa a ser mandatório para garantir competitividade.”
Já sobre a tomada de decisão baseada em dados, Elias pondera sobre a importância de priorizar o uso de dados e análises, inibindo que a intuição seja um dos fatores a serem considerados no âmbito da deliberação. Outro aspecto relevante é que, quanto maior a quantidade de dados e sua acuracidade, mais assertiva será a tomada de decisões. “Além disso, é imprescindível mencionar que a automação de processos proporciona uma melhor alocação de recursos e, por consequência, uma redução dos custos operacionais. Ademais, a IA é extremamente importante para a segurança e prevenção de fraudes financeiras nas empresas, uma vez que ela é capaz de detectar padrões comportamentais e anomalias que podem ser indicativos de riscos. De uma maneira geral, pode-se dizer que a IA melhora não só a eficiência operacional, mas também cria uma maneira de agregar valor aos produtos e serviços, possibilitando oportunidades de inovação.”
De que forma as empresas devem se preparar para enfrentar esse cenário?
Uma vez que o uso da IA como uma alavanca para a implementação da estratégia está claro, alguns cuidados são necessários. Baltar lista alguns: “Em primeiro lugar, é fundamental estabelecer uma infraestrutura e arquitetura de dados adequadas. Dados são o combustível para os modelos, e tipicamente onde mais se gasta tempo em uma implementação de IA é na captura, limpeza e preparação dos dados. Também é crucial que a seleção das oportunidades de aplicação leve em conta aquilo que traz mais valor para o negócio, definindo, inclusive, KPIs para o monitoramento do impacto que a IA está trazendo. Este monitoramento deve ser contínuo, dado que os modelos podem ter sua performance alterada quando alimentados com novos dados. E, claro, suportando tudo isso estão as pessoas. É preciso investir não só em capacitação, mas também estabelecer parcerias com universidades, startups e outras empresas para acelerar a adoção da IA na empresa.”
Os cenários são desafiadores e as mudanças tecnológicas muito rápidas. Para estarem preparadas, Elias ressalta que as empresas devem considerar, em seu planejamento estratégico, que é indispensável realizar investimentos em tecnologia. “A transformação digital deixou de ser um diferencial e tornou-se uma necessidade para aumentar a eficiência e reduzir custos. Assim sendo, é essencial focar na inovação em treinamento e na cultura interna. Agregado a isso, a empresa deve manter um controle rigoroso sobre onde investir, uma vez que os recursos são limitados e as possibilidades tecnológicas são inúmeras. Dessa forma, os recursos devem ser direcionados para projetos com maior retorno, sejam eles financeiros, operacionais ou de segurança.”
Estamos diante de uma conjuntura repleta de grandes mudanças. As empresas devem saber incorporar essas transformações de maneira a se beneficiarem. É crucial que se preparem realizando modificações e adaptando suas estruturas, processos e cultura interna, de forma a absorver os aspectos positivos das inovações trazidas, mantendo-se assim altamente competitivas.
