
Eu estava lá e ouvi, ninguém me contou, então vou reproduzir a conversa de Lara e Vitor, que não tenho ideia de quem sejam, mas sei que há muitas Laras e Vitors por aí… escuta:
— Então é isso, Lara. Você precisa ser mais empolgada! — disse Vitor, com um sorriso de orelha a orelha e um café que parecia ter sido infundido com adrenalina.
— E você precisa falar mais baixo, Vitor. Tá assustando o barista — respondeu Lara.
Vitor riu alto. Três mesas olharam. Um cachorro latiu. Uma velhinha fez o sinal da cruz.
— Tá, mas falando sério, você precisa se vender melhor. Mostrar que seu trabalho é ótimo! As pessoas precisam ver, ouvir, sentir! — Vitor gesticulava tanto que o café ameaçava transbordar da xícara.
Lara sorriu de leve.
— Prefiro que meu trabalho fale por mim.
— Mas é justamente isso! Se você não falar, ele não vai ter megafone! Vai ficar sussurrando num canto!
Ela deu de ombros.
— E quem quiser ouvir, vai ouvir. Quem quiser ver, vai ver.
Vitor olhou para ela como quem encara um unicórnio introspectivo.
— Lara… não é assim que o mundo funciona. A gente precisa ser meio… showman. Tipo Steve Jobs! Tony Robbins! Aquela vibe “venham a mim, mortais”.
Ela riu, um riso silencioso.
— Steve Jobs era mais introvertido do que você imagina.
— Jura? — Vitor arregalou os olhos. — Só se for na juventude.
— E nem todo mundo precisa ser Jobs, Vitor. Já pensou se todo mundo fizesse show em cada apresentação? O mundo ia precisar de protetor auricular.
Ele gargalhou, derrubando metade do café na mesa.
— Meu Deus, Vitor! Você é um perigo em forma de gente.
— Um perigo carismático! E você é uma fortaleza de serenidade. Sério, como você lidera equipes sem soltar fogos de artifício no primeiro dia?
— Deixo as pessoas falarem. Ouvir funciona.
Vitor piscou, como se ela tivesse revelado o segredo do universo.
— Ouvir? Tipo… ouvir mesmo? Sem planejar o que você vai responder enquanto o outro fala?
— É. Parece magia negra pra você?
— Um pouco.
Eles riram. O barista relaxou.
— Sabe o que é engraçado? — disse Lara. — Estudos mostram que equipes lideradas por introvertidos tendem a ser mais criativas.
— Sério? Porque lá na empresa tem aquele nosso gerente, o Júlio… super introvertido. E o pessoal adora trabalhar com ele!
— Pois é. Líderes muito extrovertidos podem, sem querer, dominar tanto o espaço que os outros acabam apenas concordando. Meio “sim, senhor”.
Vitor bateu com a palma na testa.
— Igual na minha equipe! Quando eu dou uma ideia, o pessoal só diz “Show, chefe!”… e eu achando que era brilhante!
Lara ergueu uma sobrancelha.
— Talvez você seja. Ou talvez eles só queiram acabar a reunião logo.
— Cruel. Verdadeiro. Gostei.
Ela sorriu.
— Não é questão de ser melhor ou pior. É de usar o que você tem de melhor. Você inspira energia, motivação. Eu crio espaços seguros para criatividade.
— Tipo Batman e Superman?
— Tipo Batman e Superman tomando café.
Vitor levantou a caneca.
— A um mundo onde introvertidos e extrovertidos salvam o dia, cada um do seu jeito!
Lara ergueu sua xícara.
— E onde ninguém precisa falar aos berros.
— Prometo tentar. — Ele piscou.
O barista sorriu, aliviado. E o mundo, naquele instante, pareceu um pouco mais equilibrado.