A aceleração da transformação digital trouxe ganhos expressivos em conectividade, automação e produtividade. No entanto, também impôs desafios à comunicação interpessoal, à coesão das equipes e ao senso de pertencimento. Neste novo cenário, cada vez mais híbrido e tecnológico, qual é o papel do líder?
Uma das dificuldades mais marcantes da liderança na era digital é a manutenção da cultura organizacional quando a convivência presencial é reduzida. A cultura, que antes era transmitida de forma espontânea pelos corredores e interações diárias, agora exige intencionalidade. É preciso recriar esses pontos de contato em novos formatos, assegurando que valores e comportamentos continuem vivos no ambiente virtual.
Lembro que, ao ingressar em uma multinacional de auditoria externa, o primeiro mês foi inteiramente dedicado à formação técnica e à imersão cultural. Aprendemos que éramos representantes diretos da reputação da empresa. Esse processo gerou em cada trainee um forte senso de pertencimento, convertido em engajamento genuíno. Hoje, com equipes descentralizadas e diversas geograficamente, esse sentimento não acontece de forma automática. É necessário criar estruturas para cultivá-lo.
É nesse contexto que surge a importância da liderança humanizada, que equilibra a busca por resultados com empatia, escuta ativa e propósito. Mais do que nunca, liderar exige compreender que, por trás de cada tela, existe uma pessoa com sonhos, inseguranças e potenciais únicos. E para conduzir pessoas com sensibilidade, o líder precisa desenvolver e incentivar um componente vital: a inteligência emocional.
Popularizada por Daniel Goleman, a inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, ao mesmo tempo que se consegue perceber e lidar com as emoções dos outros. Ela envolve autoconhecimento, autocontrole, empatia, motivação e habilidades sociais — competências essenciais para uma liderança efetiva.
Um líder emocionalmente inteligente é capaz, por exemplo, de perceber quando um colaborador está desmotivado, de escutar atentamente durante conflitos, e de criar um ambiente no qual todos se sintam seguros para contribuir. Imagine uma equipe sobrecarregada em meio à entrega de um projeto crítico. Um líder centrado apenas em resultados pode pressionar ainda mais o time. Já um líder com inteligência emocional ajusta prioridades, comunica com clareza e inspira confiança, sem abrir mão da produtividade.
Além de desenvolver essas competências em si, o líder também deve cultivá-las em sua equipe. Dinâmicas de feedback estruturado, treinamentos sobre comunicação empática, estímulo à escuta e espaços para trocas genuínas são alguns caminhos possíveis. Afinal, equipes emocionalmente inteligentes tendem a ser mais engajadas, colaborativas e resilientes.
Apesar de todo o avanço tecnológico, a tomada de decisão — especialmente em contextos complexos — ainda exige ética, visão estratégica e sensibilidade. Por isso, o papel do líder não é resistir à tecnologia, mas saber utilizá-la como aliada da inteligência humana. Automatizar tarefas rotineiras, interpretar dados com precisão e otimizar processos são ferramentas poderosas, desde que permitam liberar tempo e energia para o que nenhuma máquina pode fazer: liderar pessoas com humanidade.
Para que essa integração seja efetiva, o investimento em capacitação torna-se indispensável — não apenas em tecnologias e ferramentas, mas sobretudo no aprimoramento do perfil comportamental da liderança. O profissional que avança por seu desempenho técnico precisa estar preparado para um novo papel: ser catalisador de ideias e facilitador de conexões, focado em impulsionar a eficiência com sensibilidade humana.
Artigo escrito por Bruno Campelo, gerente de contabilidade na Eneva
