Na era da responsabilidade corporativa e do desenvolvimento sustentável, os Relatórios de Sustentabilidade emergem como elementos vitais na criação de valor das organizações. Saindo da mera conformidade regulatória ou estratégia de branding, estes relatórios podem representar uma declaração do compromisso de uma organização com práticas sustentáveis, refletindo a resposta da empresa aos desafios ambientais, sociais e de governança (ESG) que o mundo enfrenta hoje. Neste momento de mudança, onde a sustentabilidade é a bússola para o crescimento, a forma como as empresas reportam suas iniciativas e progressos nessa área não apenas amplia sua visibilidade, mas também mostra sua posição e visão diante de um panorama global em transformação.
Na visão de Breno Figueiredo, sócio fundador da Infrapar Capital Partners, a era dos Relatórios de Sustentabilidade evoluiu significativamente, marcada inicialmente pela preocupação com riscos reputacionais e construção de marcas. No entanto, hoje, o cenário se transformou drasticamente, impulsionado pela demanda por transparência e padrões internacionais, como a iniciativa do Global Reporting Initiative (GRI) e a consolidação sob o International Sustainability Standards Board (ISSB), destacando a necessidade de uma nova base contábil que integra resultados financeiros e de sustentabilidade.
Figueiredo aponta que a mudança na natureza dos Relatórios de Sustentabilidade reflete um movimento global para padronizar e regular a divulgação de informações sustentáveis, tornando-as obrigatórias e estratégicas para as empresas. Isso não só facilita a comparabilidade e a acurácia dos dados, mas também destaca como a sustentabilidade influencia diretamente a otimização de processos, a descarbonização e a competitividade no mercado.
Além disso, a digitalização emerge como uma tendência chave, com a adoção de softwares especializados que integram a elaboração dos relatórios de sustentabilidade às demonstrações financeiras tradicionais, evidenciando a indispensabilidade da tecnologia na conformidade com os padrões internacionais.
De acordo com Marco Fujihara, sócio fundador na Infrapar Capital Partners, ao elaborar relatórios de sustentabilidade, três pilares fundamentais devem ser considerados. O primeiro é o Ambiental, enfocando os desafios ambientais enfrentados pela empresa no último ano, as soluções adotadas e as metas ambientais futuras. O segundo pilar, o Social, investiga o comportamento da empresa sob esta ótica, os benefícios proporcionados aos colaboradores e o valor social agregado ao valor econômico da empresa. O terceiro e último pilar é o Econômico, abordando como a empresa gerou e distribuiu renda e a importância da transparência nos dados contábeis.
Desafios e oportunidades
No que diz respeito a implantação dos relatórios de sustentabilidade, Figueiredo destaca a cultura corporativa como um dos principais desafios, com muitas empresas ainda não compreendendo plenamente o significado e a importância da sustentabilidade no século XXI. A transição para um modelo produtivo mais sustentável requer não apenas capital e tecnologia, mas ele acredita que uma mudança fundamental na forma como as empresas operam, um desafio que se reflete na qualidade e autenticidade dos relatórios produzidos.
Por outro lado, Fujihara ressalta a comparabilidade como uma tendência principal, onde os relatórios devem incluir indicadores ambientais, sociais e econômicos que permitam comparações com outros relatórios. Esta comparabilidade facilita a criação de rankings setoriais e a identificação de lacunas organizacionais, sendo essencial para a integridade do relatório.
Um desafio chave, segundo Fujihara, é evitar o “greenwashing” – a prática de fazer com que o relatório sirva principalmente como ferramenta de marketing, desviando do foco nos dados e metas sustentáveis que são cruciais. Ele enfatiza a necessidade de os relatórios serem fundamentados em dados comparáveis e concretos para superar este desafio.
Figueiredo enfatiza que os relatórios de sustentabilidade são mais do que uma obrigação regulatória ou uma ferramenta de gestão de marca; eles são uma demonstração de como uma empresa se posiciona frente aos desafios globais de sustentabilidade, desempenhando um papel crucial na atração de investimentos e na manutenção de sua relevância no mercado. “A transparência, a estratégia de otimização e o compromisso com a sustentabilidade são, portanto, componentes fundamentais que definirão o sucesso das empresas na nova economia global”, diz.
Por fim, Fujihara acredita que a importância dos relatórios de sustentabilidade é ser como uma prestação de contas à sociedade. “Eles não apenas documentam as ações e metas passadas, mas também projetam os compromissos futuros da empresa, reafirmando a responsabilidade corporativa perante a comunidade e o meio ambiente”, pontua.