Os metaversos são espaços virtuais criados na internet nos quais os seres humanos podem se mover por meio de avatares. Para acessar esse “mundo” é necessário criar um avatar, que é um personagem tridimensional personalizado que nos ajudará a interagir com empresas e pessoas. Tudo isso graças a ferramentas imersivas como realidade virtual, realidade aumentada ou realidade mista.
Apesar da primeira versão do metaverso ter ganhado tração entre 2009 e 2012, período de adoção massiva dos smartphones ao redor do mundo industrializado, somente recentemente com o anúncio da Meta e Microsoft de criar o seu metaverso é que o tema ganhou destaque no mundo inteiro. No universo dos games, os “mundos virtuais” já são bastante conhecidos, mas nos demais segmentos de mercado as aplicações para o metaverso ainda estão em construção. Na verdade, o próprio metaverso ainda está em desenvolvimento, Thammy I. Marcato, innovation & digital transformation ecosystem da KPMG & Distrito Leap, que palestrou no Congresso ANEFAC 2022 sobre o impacto do metaverso nos negócios, avalia que, neste momento, está se dando a preparação da infraestrutura que dará suporte para o metaverso, como a implantação do 5G e das criptomoedas.
O metaverso pode ser percebido em três frentes: uma mudança cultural, onde o digital e o físico se conectam; uma mudança tecnológica, onde o mundo digital é quase paralelo ao físico; e uma mudança econômica, onde o mundo do tangível e do digital possuem economias diferentes. Para cada uma, está acontecendo algo muito maior. Segundo Marcato, essa é a primeira vez na história de toda a sociedade que mudamos totalmente de um mundo para o outro, de um universo centralizado para um descentralizado. “Os metaversos são desenhados de formas diferentes, a depender da infraestrutura tecnológica que está abaixo deles”, diz.
Atualmente, vários metaversos estão sendo construídos por diferentes empresas como a Meta, Microsoft, Nvidia, entre outras. Marcato explica que existe um metaverso web 2, onde se controla todos os dados e as regras da empresa, e um web 3, totalmente aberto em que as regras estão no blockchain e quem entrar decide a partir do módulo. Eles são totalmente diferentes, mas são metaversos porque o conceito do princípio de interatividade está presente. “Desta forma, é necessário entender a conexão do metaverso com cada negócio e se faz sentido. Para isso, o ideal é ter em mente três princípios: 1) ele existe independente de eu estar logado, ou seja, é ativo e persistente; 2) é social, preciso ter a capacidade de interação; 3) existe relação física e digital, não sai de um e entra em outro e também não nasce no digital, mas sim existe uma base no físico”, diz.
Agora, para acessar o metaverso, uma das grandes perguntas é se obrigatoriamente necessita do óculos de realidade aumentada, não necessariamente, é possível acessar com a tela no flad, mas a experiência se perde um pouco, pois continua sendo a mesma tela que existe hoje e a experiência máxima do metaverso é ter o poder sensitivo e isso começa com os óculos, avança para as atividades do sentir as coisas até o momento que não precisa de nada, se coloca o chip na cabeça e se está totalmente conectado, no estilo ficção científica.
Na visão de outra palestrante do Congresso ANEFAC, Vanessa Donnianni, CEO da Multifaces Comunicação, o metaverso não é somente virtual, são experiências sensoriais que provocam sensações e memórias reais, da comunidade para a comunidade. A marca não ‘entra’ no metaverso, ela traz novas experiências que sejam relevantes para o usuário, ampliando o seu ecossistema e gerando valor naquela moeda.
Tem bastante coisa de tecnologia para se desenvolver, desde software de hardware, sistema de infraestrutura, conexão, interface, finanças etc. “As empresas precisam entender e decidir se estão nesse jogo, se o momento é agora ou amanhã ou nunca. Já têm empresas que estão e estão pavimentando o caminho como Gucci, Boeing e outras. Atualmente, já existem algumas relações de vendas acontecendo. No Brasil ainda são poucos os exemplos. Alguns clientes são target e outros não. Precisa separar as estratégias”, pontua Marcato.
A aplicabilidade do metaverso aos negócios
As projeções são gigantescas para esse mercado, num curto período de tempo, até 2024, a Bloomberg Intelligence aposta em US$ 800 bilhões, muito por causa do entretenimento incluindo aí os games. A estimativa de acesso ao metaverso é que até 2025 30% da população mundial vai passar pelo menos 1 hora por dia nesse universo.
Entre as aplicações do metaverso nas empresas, podemos citar a possibilidade de criar espaços de trabalho virtuais remotos, espaços virtuais de atendimento ao cliente, mostrar os produtos e suas características em detalhes on-line, recriações virtuais de fábricas ou escritórios, viabilizar espaços de formação de colaboradores, vender on-line bens físicos através de novas experiências mais interativas ou gerar negócios através da venda de bens virtuais para caracterizar e distinguir avatares.
Metaverso é experiência. Um mercado já bastante consolidado no metaverso é o de games. Donnianni avalia que as marcas precisam compreender a força desse mercado e investir dinheiro lá. “Aqueles que estão jogando e investindo no e-sports estão ganhando dinheiro. O potencial de mercado é imenso. Como o metaverso trata-se de uma experiência paralela interativa, no mercado de games esse conceito já existe há muito tempo. Já são realizados campeonatos inclusive regulados pela Confederação Brasileira de Esportes e só em 2020 movimentou mais de R$ 1 bilhão. As marcas podem olhar para esse público e fazer ações de marketing, por exemplo. Pensando em omnicanalidade é aproveitar todos os canais disponíveis para vender”, ressalta.
A expectativa é que negócios, vendas e transações acontecerão no mundo físico e no mundo digital. Um exemplo é que o ser humano vai comprar um produto para ele no mundo real e outro para o seu avatar no mundo fictício. As marcas irão interagir com o seu público em ambos os ambientes. Donnianni acredita que olhando para isso, cada empresa vai precisar identificar se o seu público está inserido no metaverso, quanto tempo ele passa lá e como se comporta, além de entender o tamanho do mercado, fazer esse match, verificar se esse cenário tem a ver com o posicionamento de marca e traçar as oportunidades.
Uma outra questão muito importante dentro do metaverso é que as empresas realizarão transações por meio de sua própria ‘moeda’. Um criador cria seus ativos, pode ser NFT (Non Fugible Tokens), mas uma série de outros produtos e serviços, inclusive um avatar, a remuneração passa a vir da comunidade “descentralizada”, o poder de remuneração não está mais centralizado nas grandes plataformas, mas sim na mão do usuário.
“A NFT é um certificado de propriedade virtual que está revolucionando o mundo da arte e dos direitos autorais. É uma entrada, por exemplo, quando se vai a um show. São tokens (que podem ser como um “voucher” digital) que possuem propriedades únicas. Esses tokens representam direitos sobre o ativo e são negociados. Seria como ter uma criptomoeda com características próprias e diferentes. Portanto, seu valor também será único. É uma nova economia”, explica Donnianni.
O mercado financeiro no metaverso
Tudo o que está sendo construído no metaverso é baseado no princípio da tokenização. É a combinação que permite transformar um ativo real em um ativo digital, preservando características e havendo segurança, descentralização através da tecnologia do ambiente.
Antes de falar em investimento, é necessário entender que a base financeira do metaverso é o blockchain. Isso porque ele é desentralizado, em termos de contabilidade e funciona como um livro razão de caixa distribuído, irreversível e auditado em tempo real. De acordo com Tassio Gil, CEO da SofTrends, que também palestrou no Congresso ANEFAC 2022, o conceito de blockchain que cada bloco se conecta com o anterior mantendo a propriedade e integridade do registro é importante neste contexto e é o que vai dar a segurança para as transações no metaverso. Tudo o que foi criado neste sentido dentro do sistema financeiro servirá.
Dentro do ambiente metaverso, Gil considera que se está estudando quatros formas de investimentos: primeiro, são os investimentos na compra de NFTs e de ações de empresas que tem trabalho desenvolvido no metaverso; segundo é a compra de criptomoedas, NFTs, eBitcoinics sobre os negócios que foram desenvolvidos para o metaverso; terceiro investimento no real estate dentro do metaverso, sim já existe um mercado imobiliário; e quarto metaverso finance, criação de modelos de negócios que acontecerão dentro do metaverso.
“As criptomoedas e o metaverso ainda são considerados ambientes de risco. Há neste momento inconsistências, mas pode ser o momento ideal para investir. Recentemente uma empresa lançou ações no metaverso e já está presente em 190 países. Para a compra e venda de ações, pode ser utilizado o próprio modelo tradicional do mercado de capitais daquelas empresas que estão construindo metaversos e o seu ecossistema e, até mesmo, daquelas que já possuem produtos específicos. É pegar um pouco da carteira de investimentos para capital de risco para investir naquelas que estão olhando de forma propositiva para o metaverso. Já a segunda forma de investimento, mais ariscada, é em metacoins, que são as criptomoedas criadas para um ecossistema de metaverso”, finaliza Gil.