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Gestão patrimonial e sucessória exige preparação dos executivos da empresa e dos membros da família   

Uma jovem estudante perguntou ao comandante da Apollo 17, a última pessoa a pisar na Lua em 11 de dezembro de 1972, qual havia sido a parte mais difícil da missão. Ele respondeu: “A preparação da tripulação, nosso intenso treinamento sobre o que era preciso fazer.” 

Uso esse exemplo para falar sobre gestão patrimonial e sucessória, um tema que ainda é um tabu para muitas famílias e empresas. Muitas vezes, a tendência é adiar essa conversa. No entanto, o que aprendi ao longo dos anos é que tratar esse assunto com antecedência não é apenas recomendável, mas essencial. Quando postergado, o planejamento patrimonial pode gerar conflitos familiares, complicações jurídicas e, em última instância, comprometer o futuro das próximas gerações. Por isso, defendo com convicção que essa discussão deve começar o quanto antes, de forma aberta e estratégica dentro da família. 

Para mim, a gestão patrimonial e sucessória vai muito além de simplesmente proteger ativos financeiros. Trata-se de construir um legado que preserve valores e princípios essenciais, permitindo que o patrimônio se perpetue de maneira saudável e benéfica. O grande desafio está na administração dos bens e negócios de forma que esse legado continue a fazer sentido e tenha um impacto positivo ao longo do tempo. 

Muitas famílias, ao abordar a sucessão patrimonial, tendem a recorrer a soluções tradicionais, como a criação de holdings ou a elaboração de testamentos. Embora eficientes, essas ferramentas nem sempre atendem às necessidades e complexidades do presente. A sucessão não pode ser tratada como um evento isolado. Pelo contrário, deve ser um processo contínuo e adaptável, alinhado às mudanças no ambiente familiar, no mercado e nas relações intergeracionais. 

O planejamento sucessório não deve ser algo estático. Ele precisa ser dinâmico, revisado e ajustado conforme as circunstâncias, objetivos e necessidades de cada geração. Isso garante que o patrimônio da família seja tratado de forma organizada e possibilita uma transição tranquila e eficiente entre as gerações, sem perder de vista o legado que está sendo transmitido. 

Outro ponto fundamental é a educação das novas gerações. Muitas vezes, espera-se que os herdeiros assumam os negócios da família sem o devido preparo. No entanto, a sucessão não deve ser uma transição passiva. É fundamental preparar as gerações futuras para que não apenas administrem o que foi construído, mas inovem, adaptem-se e transformem o legado. Isso significa ensinar não só sobre finanças, mas também sobre valores, ética e visão estratégica, garantindo que o patrimônio familiar continue relevante no futuro. 

Ao focarmos apenas em bens e ativos, corremos o risco de ignorar o impacto social de nossas decisões. As novas gerações estão cada vez mais conscientes de seu papel no mundo e exigem um envolvimento mais profundo com questões que vão além dos números financeiros. Por isso, a verdadeira gestão patrimonial deve incluir uma reflexão sobre o impacto social das nossas escolhas. Sustentabilidade patrimonial não significa apenas garantir a continuidade dos bens, mas também construir algo que respeite e beneficie a sociedade no longo prazo. 

Olhando para o futuro da sucessão patrimonial, vejo que a tecnologia também desempenha um papel fundamental. Ferramentas digitais e automação são recursos poderosos, mas é um erro acreditar que a tecnologia, sozinha, resolve tudo. A verdadeira gestão patrimonial vai muito além de sistemas e algoritmos. Ela exige discernimento estratégico, análise crítica e um profundo entendimento do contexto familiar. A tecnologia deve ser aliada ao julgamento humano, pois são as decisões bem fundamentadas que garantem que o legado seja preservado de maneira inteligente e sustentável. 

Para mim, o futuro da gestão patrimonial não está apenas em preservar o que foi conquistado, mas em transformar esse patrimônio em um legado duradouro e significativo. Sustentabilidade, nesse contexto, significa garantir que as próximas gerações herdem não só bens, mas também uma visão e uma responsabilidade de continuar o trabalho de forma ética, inovadora e adaptada ao seu tempo. 

A gestão patrimonial deve ser, portanto, um processo contínuo, que se adapta e evolui com o tempo, sempre com um olhar para o futuro. Precisamos de coragem para questionar abordagens tradicionais e ousadia para adotar novas práticas, assegurando que o patrimônio de hoje seja um legado sólido, sustentável e relevante para as gerações que virão. 

Artigo escrito por Rodrigo Martins, que é CEO da Ripol Alliance 

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