
Muito além de simples dados a serem inseridos no relatório de Sustentabilidade de um negócio, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) foi criada para abranger áreas fundamentais dentro da empresa. Afinal, não é possível ter uma companhia sólida sem que haja uma governança eficiente, sem olhar para o impacto humano nas contas ou ignorando fatores ligados à sustentabilidade, que hoje não são mais um diferencial, mas uma questão de sobrevivência.
A ANEFAC entende a importância do tema e, desde 2024, promove o Prêmio ANEFAC de Boas Práticas ESG. E, para explicar o funcionamento da premiação, bem como seu objetivo e a importância da discussão deste tema em um momento de grande transição em todo o mundo, realizou o 1º ESG Day ANEFAC, em parceria com a FIPECAFI, em fevereiro.
O evento foi formado por painéis com profissionais renomados no setor, mediados por Marta Pelucio, membro do Conselho de Administração da ANEFAC. O primeiro deles com Breno Figueiredo, economista e sócio-fundador da Ivisix Research e integrante do Comitê Técnico do prêmio, que apresentou alguns dos critérios analisados pela comissão do prêmio quando recebem uma inscrição.
“O ESG entrou na moda e se tornou uma febre. Mas poucos hoje param para fazer a conta do que isso significa na prática. Quando olhamos para o E, por exemplo, falamos sobre produtividade, sobre pessoas. O S representa recursos básicos. As indústrias são altamente dependentes de uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis e isso precisa ser repensado. Quando eu tento antecipar o que toda essa transição vai provocar no valor de mercado e na contabilidade deste negócio, não terei uma resposta exata. Muitos negócios irão sucumbir nesta transição. Muitas empresas já tornaram seus relatórios integrados. Mas ser transparente não garante a sobrevivência do negócio: é preciso pegar o dado e traduzi-lo em ações de reposicionamento de mercado, redução de custos e reaproveitamento, por exemplo”, explicou Breno.
Marta Pelucio salientou que ESG não é uma questão idealista, mas sim dados que envolvem todo o cálculo de risco que gira em torno de um negócio. “ESG não é a sua visão romântica da vida, mas a importância da Contabilidade Ambiental para a sustentabilidade das empresas. Boas práticas por meio da informação e não do marketing. É fundamental que a empresa tenha um relatório de qualidade”, alertou.
Breno destacou que, na edição deste ano do prêmio, a ANEFAC quer trabalhar mais com a Academia no sentido de entender como dar um passo a mais para capturar, através da Contabilidade das empresas, aqueles negócios que estão fazendo o que John Welton, pai da Sustentabilidade, descreveu como um real aproveitamento da informação: transformando-a em ações concretas.
“Nossa análise quer entender como esta aplicação prática implica, em 10 anos, em uma redução do custo e aumento de competitividade para estes negócios”, explicou Breno.
Além do aspecto técnico
Flávio Riberi, Head de Contabilidade na ANEFAC e integrante do Comitê Acadêmico do prêmio, também participou do debate, juntamente com Haroldo Levy Neto, Diretor Técnico da APIMEC Brasil, Coordenador de Relações Institucionais do CBPS e integrante da Comissão Julgadora da premiação.
Flávio explicou que considera o momento atual um estado de fluxo, no qual as empresas estão aprendendo e evoluindo, mas o que não dá para descartar — e o que não se alcança pelas metodologias tradicionais — é a percepção de como é a cultura corporativa de um negócio, qual é o tom de uma administração e qual é a mensagem que, de fato, ela leva ao mercado.
“Se a empresa se propõe a mostrar o quanto ela está emitindo de gás de efeito estufa, tem processos sólidos de medição, uma governança por trás, existe comitê de sustentabilidade e vai amarrando tudo isso com os ODSs, é um início. Mas eu quero ter a consciência de que a empresa também tome conta de assuntos que são mais delicados. Como, por exemplo, a gestão de áreas contaminadas, que para grande parte das empresas é uma fragilidade e um ponto que ainda não está sendo muito bem ventilado, mas o mercado vai começar a cobrar isso.”
Uma curva de aprendizado
Haroldo Levy Neto, por sua vez, enfatizou que todos estão iniciando uma curva de aprendizado, enquanto avaliadores do prêmio e mercado como um todo. “Não estamos julgando aqui se a empresa faz o trabalho de sustentabilidade ou não. Neste momento, analisamos quem comunica isso corretamente por meio dos seus relatórios. Fizemos um esforço muito grande para tentar ter esse olhar e entender o que realmente as empresas inscritas estavam mostrando e se conseguimos checar, até chegar em um momento transformador.”
Marta Pelucio lembrou ainda que não basta para a empresa olhar somente para dentro do negócio: é preciso olhar para toda a cadeia de valor que suas ações impactarão. Toda a sua cadeia de fornecimento precisa executar as mesmas condições que ela tem executado, em termos de transformação e preparação, porque a matéria-prima que ela vai usar entrará na conta das emissões, do uso de energia e do desperdício de água, por exemplo.
Case Suzano
O evento contou ainda com a apresentação da Suzano, empresa ganhadora do 1º Prêmio ANEFAC de Boas Práticas ESG, representada por Helena Pavese, sobre o relatório vencedor desta edição, como ele foi pensado e quais pontos foram enfatizados.
As ações sustentáveis da companhia são diversas e foram bem especificadas em seu relatório, com fatores que impactam no seu risco e no seu valor de mercado bem delineados, de forma que os usuários destas demonstrações possam compreender a totalidade destes valores tangíveis e intangíveis.
Ao final da apresentação, o grupo respondeu perguntas do público sobre a adaptação às mudanças na IFRS voltadas à sustentabilidade e sobre especificidades da elaboração dos seus relatórios com tanta excelência, uma vez que foram os vencedores da primeira edição do prêmio. “Temos o cuidado de olhar para as informações para irmos além do compliance, mirando as melhores práticas dentro da companhia”, explicou Helena.
