Da ANEFAC, Sidney Matos, vice-presidente de associados, Gennaro Oddone, conselheiro, Gildo Araujo, diretor, Almeida, vice-presidente de Finanças e Estratégia do Santander Brasil, Vania Borgerth, board member, Lilian Primo Albuquerque, vice-presidente de tecnologia, Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos, e Willian Iribarren Reinaldo, head de expansão e relacionamento da Russell Bedford
O que é liderar? A pergunta, que ganha cada vez mais destaque em fóruns, redes sociais como o LinkedIn e até mesmo na mídia tradicional não é feita à toa. Muitos ambicionam a liderança como um lugar de destaque sem considerar o preparo que é preciso ter para estar à frente de um time ou empresa, tampouco o peso que está por trás de cada tomada de decisão feita por estes profissionais.
Isso porque liderar vai além de saber como é feito o trabalho para o qual o profissional se formou na graduação, exigindo um olhar amplo, que acompanha tendências e entende o momento de aderir a elas ou de dar um passo atrás e repensar sua estratégia. Além de, claro, ser uma referência e um motivador para aqueles a quem lidera.
E não são poucas as mudanças pelas quais o mercado tem passado nos últimos tempos, seja com a revolução tecnológica que teve início há algumas décadas – e ainda está mudando paradigmas e formas de trabalho – ou com o novo e necessário olhar para agendas internacionais. A temática foi discutido no Congresso ANEFAC, em maio, no painel Profissionais do Ano.
ESG
A sigla para Environmental, Social, and Governance representa um movimento global cunhado em 2004 em um relatório feito pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU). Seus três pilares principais estão relevados em seu nome, que traduzido significa Ambiental, Social e Governança. O objetivo da iniciativa é a adesão de cada vez mais países e organizações a princípios voltados às áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.
Desde a sua criação, o ESG têm atraído cada vez mais empresas por ser um diferencial de negócio com grande capacidade para atrair investidores e também melhorar a reputação do negócio entre os consumidores mais críticos. Segundo Vania Borgerth, board member do Banco Santander e eleita a Profissional do Ano de 2022 em Contabilidade pela ANEFAC, premiada no Congresso ANEFAC 2022 e palestrante no evento, um bom líder precisa pensar fora da caixa para aderir àquilo que o mercado pede.
“A pedido do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) comecei a ir à conferência da ONU sobre as IFRS, por conta do meu trabalho no BNDES. Como eu já estava lá, às vésperas da Rio +20 me solicitaram a análise de questões de sustentabilidade. Eu falei que não tinha nada a ver com o tema, uma vez que sou contadora. Mas, mesmo não entendendo de ESG na época, aceitei o desafio e hoje posso dizer que este foi o maior aprendizado da minha vida profissional.”
Vânia explica que a principal função de um contador é dar informação de qualidade para que outros possam tomar a decisão. Mas se estes profissionais se limitam a dar informações de natureza contábil, optam por mostrar apenas a ponta do iceberg. “Sustentabilidade é gerenciamento de risco de questões que, assim como em um iceberg, mantém seu aspecto crítico submerso. E se estes não forem percebidos, dimensionados e administrados, podem levar as empresas e o nosso planeta a um naufrágio. E não existem coletes salva vidas suficientes para isso. Então, você é obrigado a se abrir para a inovação. E o que a contabilidade tem a ver com isso? No mundo inteiro, esta é a área profissional escolhida para cuidar disso, porque nós temos séculos de técnicas de conhecimento acerca de como reportar assuntos críticos às empresas”, explica.
Porém, ESG vai muito além de questões ambientais. Nas palavras de Vania, “Mesmo que eu seja completamente verdinho, respeitando a natureza, se eu não faço isso respeitando a dignidade humana, não vou conseguir entregar o valor necessário para a sociedade a médio e longo prazo. Se eu, enquanto empregador, não tenho uma estrutura de governança que proteja a minha instituição de corrupção, de lavagem de dinheiro, de práticas não éticas em todo o negócio, eu também não sou sustentável. E no Brasil a parte de governança é muito forte, mas a social é a mais atrasada”.
Cultura organizacional
Outro papel fundamental para qualquer líder é o de engajar as pessoas na cultura da empresa. Isso porque assim como acontece em um programa de compliance, a cultura de um negócio só será eficiente quando os princípios forem propagados de cima para baixo na pirâmide organizacional.
Cabe aos líderes apresentar e motivar seus times a vestirem a camisa do negócio e a trabalhar dentro deste código escrito e praticado dentro da organização. Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos e eleito Profissional do Ano de 2022 em Administração pela ANEFAC e também premiado no Congresso ANEFAC e palestrante, entende a importância deste princípio. “Eu acredito no papel do líder especialmente no compartilhamento dos valores do negócio. Hoje, por exemplo, tenho uma alegria muito grande por me identificar profundamente com os valores da empresa que eu trabalho. Então, quando estou entrevistando alguém (porque eu faço questão de entrevistar algumas pessoas), acabo fazendo muito mais as perguntas relacionadas aos seus valores. Isso porque eu acredito profundamente que se elas tiveram os valores que se alinhem aos nossos princípios empresariais, essas pessoas vão produzir muito mais e ainda ficarão conosco por muitos anos”.
Couto afirma ainda que, deste modo, consegue um engajamento natural, uma vez que há uma identificação moral do próprio funcionário. E este profissional vai inspirar e até levar para a empresa pessoas que compartilham dos mesmos valores, ideias e propósitos.
Cultura x home office
A cultura de muitos negócios tem sido questionada especialmente neste momento de retomada ao trabalho presencial, no qual muitos funcionários que estavam trabalhando apenas à distância não veem vantagem neste retorno ao escritório.
E isto tem levado muitos gestores a buscarem formas de tornar este processo mais atrativo para suas equipes. Couto relata que, por causa da cultura da sua organização, foi possível continuar com a equipe trabalhando no escritório durante a pandemia. “Reduzimos orçamento, colocamos cerda de 40 pessoas em home office, mas quisemos preservar o trabalho presencial, no qual eu acredito. Não que a gente não tenha que dar liberdade para as pessoas poderem tirar seus documentos ou trabalhar de forma remota para poder encaixá-lo em um compromisso pessoal. E isso eu acho muito legítimo, sempre o fiz e acho que isso deve ser estimulado. Porém, acredito que temos que respeitar a cultura das empresas e é por isso que verdadeiramente não sei se vai ter uma fórmula exata neste processo de retomada para todos os negócios. Mas sei que na nossa companhia, hoje a nossa cultura é o presencial e isso nos faz mais fortes”.
Retenção de talentos
Se a identificação com a cultura do negócio faz com que os talentos permaneçam na empresa por mais tempo, podemos concluir que ele é fundamental na retenção de profissionais estratégicos, tão disputados no mercado atualmente.
O mercado de tecnologia, por exemplo, enfrenta um sério problema de escassez de mão de obra qualificada e disputa com todas as armas disponíveis os profissionais que podem fazem a diferença no negócio. E as duas principais são salário e flexibilidade.
Por isso, as empresas e os líderes que fazem parte dos processos de seleção precisam deixar bem clara qual é a forma de trabalho da empresa para que aqueles que não se identificarem com ela procurem outras vagas e, especialmente, para atrair quem se encaixe na cultura do negócio.
Como ser relevante para o mercado
Mas, para fora do mercado de tecnologia, os profissionais – especialmente em cargos de liderança – precisam se manter atrativos para o mercado. Ainda que seu objetivo não seja mudar de empresa, mas sim atrair novos clientes.
Hoje um líder não é apenas alguém que gerencia uma equipe e controla um processo. Ele é um influenciador, inclusive no ambiente digital, caso assim deseje.
De acordo com Andrea Marques de Almeida, vice-presidente de Finanças e Estratégia do Santander Brasil e eleita Profissional do Ano de 2022 em Economia & Finanças pela ANEFAC e premiada no Congresso ANEFAC e também palestrante, hoje não tem um profissional que conseguiu sobreviver no mercado sem estar acompanhando as tendências futuras. “Nós devemos estar preparados para diversos cenários, seja de curto, médio ou longo prazo. Muitos dos empregos que existiam no passado ou existem hoje logo mais não farão sentido no mercado, com o aprimoramento da inteligência artificial. Por isso devemos ter uma cabeça voltada à inovação e pensar que a criatividade e a conectividade em breve serão mais importantes do que a técnica pela técnica”.
A profissional lembra que nenhum conhecimento adquirido é de fato desperdiçado em nossa vivência profissional. “Eu comecei trabalhando na Engenharia de Produção e não atuo mais com produtos, hoje trabalho com serviços, mas uso o conhecimento adquirido naquela época na função que exerço hoje”, finaliza.