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Oportunidades do ESG estão à mesa para posicionar estrategicamente o negócio a frente de uma sociedade mais exigente 

ESG (ou ASG, em português) são três letrinhas que surgiram em 2004 (na publicação “Who Cares Wins” do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial), e que vieram para ficar. Representam um acrônimo em inglês que quer dizer E enviromental (ambiental), S social (social) e G governance (governança). Dito de outra forma, a ESG remete a três elementos que demonstram o quão engajada uma empresa está em implementar melhores práticas ambientais, sociais e de governança. 

Ao longo do tempo, a ESG vem assumindo cada vez mais destaque como métrica e guia para as boas práticas de negócios. As empresas e os investidores estão atentos ao fato de que a manutenção dos negócios é também atrelada à sustentabilidade. Com isso, a adoção das práticas ESG se torna crucial para a sobrevivência das empresas no médio e longo prazo e, até mesmo, para a sobrevivência do planeta.  

Nesse contexto, não há mais espaço para protelar. É essencial que as empresas associem o discurso à prática e que, de forma efetiva, fundamentem as suas práticas de negócios em ESG.    

Já não temos mais dúvidas no meio corporativo a respeito da necessidade de integrar os aspectos ambientais, sociais e de governança na concepção da estratégia do negócio e nas relações com todas as partes interessadas. Muito além da clássica visão da década de 1970 com Milton Friedman que a responsabilidade social corporativa se resumia ao lucro, havia uma percepção aritmética em benefício dos acionistas de uma corporação que se traduzia na equação da remessa de dividendos proporcional ao lucro produzido.  

Sabe-se que muito além do lucro, hoje há a preocupação com sua qualidade, e claro, o potencial de sua persistência em períodos subsequentes. Produzir um lucro de forma agressiva, com sequelas na relação com seus clientes e funcionários e sem a atenção ao meio ambiente e aos aspectos sociais pode, em um primeiro momento, permanecer oculto aos olhos do acionista. Porém, em um segundo momento, grupos de interesse de forma organizada podem se posicionar contra uma corporação com uma má notícia, que tem o potencial de se espalhar pelos ares do mercado, estabelecida em uma reclamação judicial que traz em seu revestimento um dano a reputação. 

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), um dos principais impulsionadores da governança corporativa no país, publicou recentemente seu novo guia de boas práticas para uma agenda ESG nas organizações e acertou em cheio ao enquadrar o ESG dentro de uma moldura da sustentabilidade com responsabilidade conjunta entre governo, empresas e sociedade.  

Falar em agenda ESG não é apenas um modismo que poderia entrar na pauta de um conselho de administração, mas um esforço que começa com a redefinição de uma missão do negócio e a pactuação de metas ambientais e sociais que serão entregues pelo negócio em conjunto com a geração de lucro. Da missão vem a necessidade de novas estruturas e perfis profissionais com know-how para desenhar processos e métricas a fim de monitorar seu cumprimento. Urge a necessidade de integrar estes processos a controladoria, interrelacionando variáveis contábeis e financeiras e informações relacionadas a gestão energética, resíduos e emissão de poluentes.  

Das decisões aparentemente mais simples às mais sofisticadas incluem-se a definição de papéis e novas metas de desempenho que podem estar vinculadas aos programas de incentivo e recompensa dos executivos responsáveis por cumprir com a nova agenda. 

Por isso, deixemo-nos levar pela tríade do ESG, que, segundo o guia do IBGC, tonifica a responsabilidade da governança para exercer seu efeito moderador sobre a fiel obediência da agenda ESG. Cumprir com esta agenda envolverá a sincronização das iniciativas da área de compliance, como guardiã dos valores corporativos, auditoria interna, como função estratégica na análise de desvios de novos processos, e, por último e não menos importante, a gestão de riscos, sob um manto extenso de riscos ambientais e sociais não capturados antes da instituição desta agenda.  

Orquestrar o funcionamento de áreas estratégicas ligadas a governança amplifica o desafio na interação com áreas que se debruçam na elaboração e divulgação de informações ao mercado em cenários que podem estar previstos em um plano de divulgação voluntária do esforço da organização em prol de metas compromissadas com a sociedade ou mesmo endereçar o pleito de uma parte interessada que tenha percebido uma fragilidade na atenção da empresa com o compromisso social e ambiental.  

Para que o compromisso social e ambiental seja cumprido, as empresas podem também se valer da colaboração tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, na qualidade de investidores responsáveis. 

Como exemplo temos Larry Fink, CEO da BlackRock e gestor de trilhões de dólares em nome de diversos clientes. Com base em sua visão, para que as empresas prosperem, não é suficiente entregar apenas desempenho financeiro. É necessário ir além e demonstrar contribuições positivas para a sociedade, refletindo os valores ESG nos investimentos feitos. 

Como consequência, ele defende que as empresas alinhadas aos critérios ESG vão obter resultados financeiros melhores, enquanto empresas sem propósito e que não cumprirem suas obrigações de divulgação de sustentabilidade eficazes ou que não implementarem estruturas para gerenciar estas questões serão desvalorizadas, responsabilizadas e deixadas para trás. 

Nesse mesmo sentido, as empresas têm feito captações com taxas bem atrativas. Como exemplo, podemos citar a empresa SUZANO, que foi a segunda empresa do mundo e a primeira das Américas a emitir Sustainability-Linked Bonds, em função da conexão entre o modelo da emissão dos bonds e o desempenho ESG. Entre outras coisas, a empresa definiu como meta a redução de gases de efeito estufa. E, no final de 2020, captou com a menor taxa da história do Brasil para títulos com prazo de 10 anos. Isso comprova que os investidores têm aceitado receber juros menores por um título, em função do componente ESG. 

Além disso, a preocupação hoje deve ser também com o greenwashing, também conhecido como maquiagem verde. Há tempos atrás não era tão interessante para a empresa se mostrar sustentável, já que suas ações não seriam melhores precificadas e nem teriam mais investidores interessados nessas empresas. Não obstante, isso mudou. 

Hoje, o mercado precifica as empresas com agendas sustentáveis. Em razão disso, algumas delas exageram suas práticas e fazem propaganda enganosa, com a finalidade de conquistar o apoio popular. Mas isso não pode ocorrer. 

É essencial que haja um olhar atento à exatidão e fidedignidade daquilo que é tornado público, de forma a jamais divulgar uma informação enganosa acerca de sustentabilidade ou apoio ao meio ambiente, com objetivo de marketing. Daí a necessidade de as empresas sempre terem uma boa governança corporativa, a fim de evitar problemas em sua reputação e nunca divulgar greenwashing.  

Assim sendo, nota-se que o social e ambiental devem caminhar lado a lado com os princípios de governança e integridade.  

Executar programas que atinjam o funcionário, comunidade no entorno e o meio ambiente exigem o conhecimento do norte magnético da companhia com seu propósito harmonizado a visão de longo prazo, mantendo a premissa recorrente de manutenção da lucratividade para assegurar a continuidade do negócio, das próprias ações e compromissos assumidos perante a sociedade a partir da decisão dos representantes dos acionistas na mais alta instância de governança de uma organização. 

Nos anos vindouros será difícil avaliar a qualidade do lucro de uma organização sem que se avalie a qualidade da gestão dos fatores sociais e ambientais e que estes tenham passado pelo exame da governança. 

Artigo escrito por: 

Flavio Riberi, vice-presidente adjunto
de Contabilidade na ANEFAC e coordenador
 de MBA na FIPECAFI
Vera Elias, vice-presidente de
contabilidade na ANEFAC

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