Nos últimos anos, o ambiente regulatório no mundo e Brasil passou por grandes mudanças, alterando de maneira substancial a atuação dos Conselhos de Administração das empresas. Além de suas responsabilidades tradicionais de governança e estratégia, o aumento das exigências legais e regulatórias trouxe outras questões ao papel dos conselheiros, afetando diretamente a governança corporativa, a capacidade de atrair investimentos e a reputação corporativa.
Na visão de Renata Veríssimo, sócia-fundadora da Biomas ESG – Impacto Consciente, o Conselho de Administração tem três grandes responsabilidades: visão estratégica, supervisão da gestão executiva e garantia de operações éticas e transparentes. “O conselho deve definir metas claras para o crescimento da empresa e monitorar o progresso através de relatórios trimestrais de desempenho”. Além disso, o conselho deve estabelecer políticas que promovam a responsabilidade e integridade, assegurando o cumprimento de regulamentações legais e normas de mercado.
A gestão de riscos é outra responsabilidade crucial. Isso inclui identificar, avaliar e mitigar riscos, além de garantir sistemas de controle internos eficazes. “Deve assegurar que a empresa mantenha práticas de governança que promovam a confiança dos investidores e outras partes interessadas. Ao criar um ambiente de governança robusto, o conselho protege os interesses de todos os stakeholders, incluindo acionistas, funcionários, clientes e a comunidade em geral”, acrescenta Veríssimo.
Ao complementar, Camila Dias de França, sócia-fundadora da Biomas ESG – Impacto Consciente, pontua a necessidade de desenvolver uma estratégia de sustentabilidade alinhada com a missão e os valores da empresa, ainda mais se a empresa tiver um propósito claro e no coração de todos os stakeholders envolvidos na cadeia de valor. “Essa estratégia deve ser claramente comunicada e incorporada nas operações diárias e na tomada de decisões”, diz França. Práticas de governança que incentivem a transparência e a responsabilidade em relação aos impactos ambientais e sociais são essenciais.
Para ela, a empresa deve adotar relatórios de sustentabilidade para fornecer informações detalhadas aos stakeholders sobre suas iniciativas e resultados. “A integração desses princípios garante que os objetivos de sustentabilidade sejam centrais para a estratégia de negócios da empresa, mitigando riscos e criando uma vantagem competitiva. Quando a empresa adota em sua governança também os pilares ambientais e sociais, consegue mitigar riscos que podem arranhar sua reputação. Indo além do core do negócio e focando não apenas em gerar lucro para os acionistas, ela consegue estar em vantagem competitiva em relação aos seus pares.”
Medir as ações ambientais
A medição do impacto é uma etapa crucial no processo ESG. França explica que as métricas devem ser integradas aos sistemas de gestão e relatórios da empresa, permitindo uma análise contínua e precisa do desempenho. “Indicadores-chave de desempenho, como redução de emissões de carbono e uso eficiente de recursos, devem ser monitorados e relatados regularmente”.
Ao citar um exemplo, ela mencionou que uma empresa de varejo pode medir a redução do consumo de energia após a implementação de sistemas de iluminação LED em suas lojas. Essas métricas devem ser integradas aos sistemas de gestão e relatórios existentes da empresa, permitindo uma análise contínua e precisa do desempenho. Indicadores-chave de desempenho (KPIs) relacionados à sustentabilidade, como redução de emissões de carbono, uso eficiente de recursos e engajamento comunitário, devem ser monitorados e relatados regularmente.
Ela também destaca a importância de uma abordagem baseada em evidências para avaliar o impacto das iniciativas de sustentabilidade, incluindo auditorias externas e avaliações de impacto. “A transparência nos relatórios e a disposição para ajustar estratégias com base nos resultados obtidos asseguram que as iniciativas atinjam seus objetivos e contribuam para o valor a longo prazo da empresa.”
Além disso, Veríssimo entende que educação contínua e o desenvolvimento profissional são fundamentais para que o conselho de administração se mantenha atualizado sobre as melhores práticas em governança sustentável. “Participar de conferências, workshops e seminários sobre sustentabilidade e governança corporativa é imprescindível”, afirma Veríssimo.
Ela recomenda que o conselho colabore com especialistas externos e organizações dedicadas à promoção de práticas empresariais sustentáveis. “Trabalhar em estreita colaboração com a equipe de gestão e revisar políticas e processos são passos essenciais para integrar as melhores práticas nas operações diárias da empresa. Bem como a promoção de uma cultura corporativa que valorize a sustentabilidade e a responsabilidade social. Acima de tudo, ESG é uma consciência coletiva, envolve complexidade sistêmica e muitos atores. Encontros periódicos com outros conselhos – de preferência que tenham níveis de consciência diferentes sobre o assunto sustentabilidade – poderão gerar resultados transformadores”.
Veríssimo ainda destaca que o conselho e a empresa devem adotar uma abordagem inclusiva e colaborativa para alinhar os objetivos de sustentabilidade com os interesses dos acionistas e outros stakeholders. “Promover um diálogo aberto e transparente para entender as expectativas e preocupações dos stakeholders é crucial. O gerenciamento de stakeholders, de maneira técnica, certamente contribuirá para acompanhar e monitorar o movimento comum de níveis de interesse e de influência de cada stakeholder que se relaciona com a empresa. A boa prática de construção da Matriz de Stakeholders, integrada às ações voltadas aos assuntos materiais ESG, contribuirá para que o Conselho de Administração escolha direções mais pautadas em decisões que considerem um ecossistema”.
O conselho deve garantir que as iniciativas de sustentabilidade sejam comunicadas de forma clara e eficaz aos stakeholders. Isso pode ser feito através de relatórios regulares, reuniões e outras formas de comunicação que demonstrem como as práticas sustentáveis contribuem para o valor a longo prazo da empresa. “Ao alinhar os objetivos de sustentabilidade com os interesses dos acionistas, a empresa pode criar um valor compartilhado que beneficia todos os stakeholders e fortalece a posição da empresa no mercado”, finaliza Veríssimo.